RESUMO: O presente texto tem a finalidade de
analisar o sadismo, o masoquismo e a coprofilia (sexo com fezes humanas), por
meio da obra do escritor Marquês de SADE; bem como da importância destes
comportamentos sexuais extremos em sua literatura e filosofia.
INTRODUÇÃO
Não raro, ouvimos comentários de alguém que
conhece alguma história a respeito de um terceiro que possui comportamentos
sexuais estranhos; comportamentos que não se adequam ao que se convencionou
chamar de normal em matéria de sexo. Assim, ouvimos, por exemplo, histórias da
mulher que adora, durante suas relações sexuais, receber, de bom grado, tapas
em seu rosto, ou mordidas em seu pescoço (MASOQUISMO); do jovem que pede para
usar banheiros de conhecidos para roubar calcinhas das irmãs destes
(FETICHISMO); ou do sujeito que, bem vestido, frequenta o banheiro público
durante horas a fim de espreitar outros homens em seus momentos íntimos,
olhando indiscretamente com interesse para o órgão exposto do cidadão ao seu lado
(VOYEURISMO); de outro que coleciona
absorvente femininos, sujos, de baixo da cama (MENOFILIA); ou ainda do sujeito
que prefere ter relações sexuais com mulheres menstruadas, fantasiando as ter
desvirginado durante suas relações; etc.; tais histórias parecem serem bem mais
comum do que se pensa, e com o advento da internet, com seus inúmeros materiais
dedicados as mais “estranhas” formas de desejos sexuais, percebemos,
definitivamente, que a quantidade de tais comportamentos superam mesmo a maior
estimativa que suspeitávamos existir quanto a tais comportamentos.
A internet possibilitou uma nova era de
informação, facilitando e tornando acessível a muitos, informações que até
então eram privilégios de poucos; divulgando ideias e novas formas de
comportamentos humanos, em que, como era de se esperar, o sexo possui um lugar
de destaque, com dezenas de milhares de sites dedicados a saciar a curiosidade
e o desejo de centenas de milhares de pessoas. Assim, há desde sites inocentes
que se dedicam a reunir futuros casais de namorados, aos dedicados a prostituição,
ou encontros de casais com fins sexuais; ou ainda os dedicados ao comércio de
pequenos filmes pornôs, às formas mais extremas de sexo, como os que se dedicam
a mostrar sexo entre humanos e animais; sexo entre adultos e crianças; relações
sadomasoquista extremas, em que a violência e a dor são os atrativos principais;
sexo entre pessoas mutiladas; relações sexuais envolvendo excrementos humanos,
havendo mesmo o contato e a ingestão de urina e fezes humanas durante o ato
sexual, etc.
Tais sites, a contar pela grande quantidade
destes, possui - contrariando o que se pensa - um imenso público, com milhares
de acessos diários; sites que, sendo pagos, demonstram que há um numeroso
público sedento e disposto a pagar para vê-los, não se dedicando, portanto,
apenas a saciar a curiosidade casual de alguns, mas de orientar a atividade
sexual de muitos. O que deve levar muitos a questionar: ATÉ QUE PONTO TAIS COMPORTAMENTOS PODEM SER CONSIDERADOS NORMAIS, NÃO-DOENTIOS?
É o que se propõe analisar este artigo.
SEXO DITO NORMAL
Embora exista uma infinidade de formas
sexuais extremas, algumas, certamente, ainda sem nomes, três nos interessa por
estar ligadas diretamente a obra do Marquês de SADE; e que são a base de muitas
outras; são elas: o SADISMO, o MASOQUISMO e a COPROFILIA. Práticas sexuais, que
como podemos notar através de relatos famosos sobre a vida do nobre francês,
estavam presente também em sua vida.
Antes de prosseguirmos, e analisarmos algumas
formas extremas de sexo, convém que definamos o que se convencionou chamar de
sexo normal.
O sexo dito normal nada mais é do que o sexo
orientado por regras de condutas morais, com bases, em última instância, em
ideias religiosas que, como visto acima, dentro da visão cristã Católica, por
exemplo, permiti o sexo apenas como ato unicamente para fins de procriação; sendo
proibido tudo aquilo que foge desta ideia; sendo taxado de comportamentos
sexuais antinaturais. Portanto, dentro desta visão, seriam antinaturais: a
masturbação; o sexo com animais; o homossexualismo tanto feminino quanto
masculino; o sexo oral e anal, etc.
O “sexo normal” seria apenas uma mera
convenção, um mero acordo de conduta, dependendo de interpretações pessoais e
religiosas; e que, assim como as religiões, seriam relativas, sendo nenhuma
mais verdadeira que a outra; e que mudaria segundo períodos de tempo, de países
e culturas diferentes. Desse modo, o que em um país seria proibido como algo antinatural,
em matéria de sexo, em outro seria permitido como a coisa mais normal do mundo.
A expressão “antinatural” como forma de
proibição sexual, carece mesmo de sentido; não possuindo nenhum fundamento na
natureza, chegando mesmo a ser contraditória, já que tudo que existe -
inclusive o homem e seus desejos sexuais, por mais diferentes que possam ser -
pertencem à natureza, sendo, portanto, naturais.
O que comumente se chamou perversão sexual,
ou desvio sexual, ganhou modernamente um nome menos propenso a julgamentos
morais ou sentido pejorativo; tais denominações passaram assim a ser
substituída pelo termo PARAFILIA (embora muitos críticos afirmam ainda que tal
termo continua sendo pejorativo na maioria das circunstâncias), nome dado para
atividades sexuais em que o prazer sexual se concentra em atividades, ou em objetos
não relacionados diretamente com o sexo, ou em gostos específicos de parceiros
sexuais, como na PEDOFILIA, em que o
prazer do ato sexual está em praticá-lo com crianças.
ZOOFILIA: Atração Erótica Por Animais |
FISTING: Prazer Sexual Por Meio da Introdução do Punho no Ânus ou Vagina |
As parafilias podem ser classificadas de
acordo com o comportamento ou o objeto inserido no ato sexual, segundo normas de
saúde ou critérios de sociabilidade, indo das que poderíamos classificá-las como
inofensivas, passando por aquelas que classificaríamos como perigosas à saúde,
às de índole violentas e mesmo criminosas.
SADISMO: Da Sensação de Poder ao Prazer Sexual
No longínquo 3 de abril de 1768, num domingo
de páscoa, uma bela mendiga é levada para uma suntuosa casa, com promessa de
trabalho; ao chegar é trancada em um dos quartos; posteriormente, é manietada
de bruços sobre uma cama; tem seu corpo chicoteado; em seguida, tem o corpo pinicado
por um objeto cortante; o qual derrama múltiplas gotas de sangue, que escorrem
sobre sua pele branca, entre faixas vermelhas feitas pela ponta do chicote; o
sangue é estancado por pingos de cera quente que caem de uma vela, que é
administrado por seu algoz, sobre suas feridas abertas. Seu algoz é um nobre
francês de nome SADE.
O jovem SADE concretiza neste ato, o ápice de
seu sadismo prático. O caso tornou-se conhecido como “o caso Rose Keller”.
Rose Keller o denunciará às autoridade da
época, descrevendo o que está acima como o ocorrido, embora não tenha sido a
mesma versão dada por SADE. Mas uma coisa é certa: SADE a teria chicoteado;
costume que era tão comum em suas festinhas, e que era também administrado, com
veemente exigência, por si próprio, sobre seu próprio corpo, por meio de
prostitutas pagas para também fazerem este trabalho.
Para SADE o PODER É AFRODISÍACO. Isto é, é estimulante de prazer; um
estimulante inerente aos homens, em menor ou maior grau, que tanto pode dar
prazer a um déspota, provocando-lhe orgulho e sentimento de superioridade
perante seus semelhantes, mantendo-o ao máximo no poder; como também a um
assassino, que subjuga sua vítima, forçando-a a se submeter aos seus desejos; ou
ainda ao prazer sexual com que um casal, que por meio de chicotes e algemas,
apimentam a relação à dois com joguinhos sexuais de submissão e autoridade.
Todos tendo a mesma origem: o sadismo inerente ao homem.
Se o termo sadismo se originou do nome do Marquês
de SADE, adepto desta forma de atividade em seus escritos e na própria vida,
como já foi visto, o termo masoquismo originou-se, por sua vez, do nome de
outro escritor, do austríaco Leopold von Sacher-Masoch, que em seus inúmeros
livros narra personagens masoquistas. Sacher-masoch era pessoalmente um
masoquista, que teve tal atividade despertada, como muito bem narra o próprio
escritor: na infância, quando ao esconder-se no quarto de uma tia, no
guarda-roupa desta, entre seus casacos de peles, presenciou esta tendo relações
sexuais com um homem. Ao ser descoberto, foi castigado com surras por ela,
enquanto estava entre os casacos de peles, o que o fez durante o resto de sua
vida, relacionar dor, humilhação e casacos de peles ao sexo.
Embora a muitos pareça descabido que alguém
possa obter prazer com a própria dor e humilhação, a verdade é que o prazer e a
dor sempre andaram juntas, até mesmo onde menos podemos imaginar. Tomemos, por
exemplo, as religiões, principalmente aquelas em que veem na dor e na
humilhação, virtudes imprescindíveis a evolução espiritual e importante modo de
submissão a Deus. O Cristianismo é um bom exemplo disso:
A flagelação passou a ser um ato cotidiano em
muitas ordens cristãs; como um modo de mortificação do corpo e de seus desejos,
geralmente desejos sexuais. Não raro, este era o modo de alcançar êxtases
religiosos. Santa Tereza usava a flagelação como prática diária; através do
chicote ela alcançava estados místicos de transe; São Francisco de Assis dizia:
"Humilhação é o caminho para a
humildade e sem humildade, nada agrada a Deus". Muitos devotos e
líderes religiosos cristãos se flagelavam, e prescreviam tal prática, como São
William, São Rudolph e São Dominic. Havia mesmo ordens dedicadas a tal ato,
como a Seita dos Flagelantes, organizada por Santo Antônio; que ia de cidade em
cidade arrecadando novos penitentes, até uma igreja, onde se flagelavam com
chicotes durante horas, em seus dorsos nus; às vezes chegavam a dezenas de
milhares.
São João da Cruz (1542 – 1591) afirmou, certa
vez, sentir prazer em lamber feridas de leprosos; Santa Catarina de Siena (1347
– 1380) afirmou não ter comido nada tão delicioso quanto o pus dos seios de uma
cancerosa.
Estas palavras foram pronunciadas por pessoas
que são tidas, ainda hoje, para muitos, como modelos de virtude e de bem viver.
É que as religiões tem o grande poder de transformar
o que seria um ato torpe e execrável, quando não vistos com os olhos da fé, em
um belo ato de devoção e sacrifício, quando inserido em seu contexto religioso.
E o que é tido muitas vezes como meramente um ato de masoquismo, quando fora da
religião, pode ser cultuado como virtude quando visto pelos olhos da fé.
O prazer da dor, neste caso, não estaria
certamente na forma sexual, como podemos ver em SADE ou em Sacher-Masoch, mas no
PRAZER DO ALÍVIO DA PASSAGEM DA CONSCIÊNCIA DO PECADO, MARCADO POR TORTURAS
PSICOLÓGICAS, PARA O BEM ESTAR DA NÃO-CULPA, já que o Cristianismo, com sua
forte ideia de redimir os pecados, coloca na dor, o melhor modo. E a capacidade
de sentir dor sem reclamar, como uma de suas virtudes; terminando, enfim, por
associar prazer e dor, dor e salvação ou a total permissão de desejos mórbidos,
vistos como virtude; o que certamente estimularia ainda muito mais nossas tendências
masoquistas.
Enquanto o SADISMO seria uma relação ATIVA
com o poder, com a autoridade; o MASOQUISMO, por outro lado, seria uma relação PASSIVA
com estas formas de atividades. Para o masoquista, figuras poderosas estariam
necessariamente ligados a exigência de punição, pois tal capacidade seria a
própria essência do poder delas, por isso seriam inseparáveis do castigo. O que
explica, por um lado, como já foi visto, tanto a reação masoquista com relação
à religião e à figura de Deus, quanto aos “prazerosos joguinhos” sadomasoquista
entre amantes.
Novamente uma boa explicação para isso, como
bem observou SADE, é que tanto o sadismo quanto o masoquismo, em menor ou maior
grau, são tendências inerente no ser humano, à nossa origem animal.
Em 1954, um dos primeiros pesquisadores
sexuais, Alfred Kinsey, constatou que mais da metade de homens e mulheres,
reagiam sexualmente com prazer a mordidas: nada muito diferentes de vários
animais. E, talvez, assim como, por exemplo, alguns insetos, como algumas
aranhas, ou louva-deuses, em que o macho se permite, ao fim do ato sexual, ser subjugado
e devorado pela fêmea, tenha também se conservado no homem a tendência a
submissão no ato sexual, identificando dor e prazer. Fato que parece se repetir
continuamente nas mulheres; associação que parecer ter bases biológicas, já que
o papel biológico da mulher está impregnado de dor: da menstruação, ao
defloramento e, consequentemente, ao parto.
SADOMASOQUISMO
É claro que um mesmo indivíduo poderia
abarcar em si tanto o papel de sádico quanto de masoquista. Sua relação com a
ideia de autoridade seria tanto ativa quanto passiva; ele seria ao mesmo tempo
tanto algoz quanto vítima de si mesmo; assumindo a autoridade de punir a si
próprio. Tal relação denomina-se de SADOMASOQUISMO.
SEXO ANAL
Porém, antes de nos debruçarmos sobre as
particularidades da COPROFILIA, é de suma importância examinarmos uma prática
sexual que, embora não considerada PARAFILIA, possuía uma grande importância
para o nobre escritor francês: o SEXO
ANAL.
SADE o praticava não apenas de forma ativa
como passiva; e não apenas com homens, mas também com mulheres. Em Marselha,
por exemplo, SADE é denunciado por três prostitutas por tê-las forçado a
açoitá-lo; e depois ter praticado, em cada uma, sexo anal, enquanto ao mesmo
tempo recebia em seu ânus o pênis de seu criado.
A preferência de SADE pelo sexo anal pode não
apenas ser explicado por esta modalidade sexual unir tanto sadismo quanto
masoquismo em uma mesma atividade sexual, quanto à certa dose de blasfêmia
atribuída a ela. O que fez desta atividade o ápice de sua sexualidade, pois
como bem observou Simone de Beauvoir, podemos dizer que toda a sexualidade de SADE
é de teor anal; contendo, pois:
SADISMO -
posto que o sexo anal provocaria dor no parceiro; seria a invasão mais completa
da sexualidade de um pessoa sobre a outra; seria o máximo da intimidade sexual
e da conquista, etc.;
MASOQUISMO - o
sexo anal permitiria a subjugação do parceiro ou da parceira, até mesmo
simbolicamente, por meio de algumas posições sexuais, representando a dominação
de um sobre o outro; simbolizando a atividade de um sobre a total passividade
do outro, etc;
TRANSGRESSÃO – o
sexo anal quebraria valores, principalmente valores cristãos, como a ideia de
que o sexo seria permitido apenas para fins de procriação, e a ideia de que
este seria antinatural.
SADE, por meio da transgressão, transforma mesmo
a blasfêmia em prazer, misturando-a ao prazer sexual; por exemplo, durante
relações sexuais suas, obrigava que suas parceiras desrespeitassem símbolos
cristãos. Vale notar que, em sua época, o sexo anal, mesmo praticado de modo
heterossexual, era considerado crime de sodomia, passível de detenção e mesmo
de morte, tendo tal lei bases cristãs. O que certamente incluiria um atrativo a
mais para SADE: o perigo. Elemento com forte poder de estimulação, pois como é sabido,
ainda hoje: “O que é proibido é sempre mais procurado”.
Tais elementos reunidos, pelo menos em parte,
seria a própria essência do desejo pelo sexo anal, como podemos ver ainda hoje
em relatos de casais, em que o parceiro pretende iniciar sua parceira em tal
atividade. Para muitos destes, o sexo anal é o máximo da conquista sexual,
principalmente quando tal possibilidade é tantas vezes negada pela parceira,
não raro com argumentos que incluem desde que tal ato causa dor, é nojento, á
afirmação de que é contra a natureza. Negativas que só fazem aguçar ainda mais
o desejo do parceiro. Principalmente em uma cultura como a nossa que privilegia
como modelo de beleza mulheres possuidoras de fartas e belas bundas, chegando
mesmo tal atributo torna-se um meio de alcançar sucesso profissional, ou
econômico, como podemos observar acompanhando carreiras de dançarinas, ou mesmo
na vida cotidiana, em que grande parte dos homens bem sucedidos aparecerem nos
meios de comunicação ostentando mulheres com “belos traseiros”, tornando as
nádegas femininas status social.
TRANSGRESSÃO E PARAFILIA
Ao atribuir, revolucionariamente, à
transgressão papel coadjuvante ao prazer sexual, e ao explorar ao extremo os
prazeres do corpo, a transgressão terá papel fundamental no pensamento de SADE,
como também em seus escritos. Tornando-se mesmo em muitas descrições de sexo
extremo, em sua literatura, o elemento fundamental; o que parece refletir bem a
realidade, já que muitos desejos sexuais extremos, praticados na realidade
possuem a transgressão e o proibido como elementos fundamentais; como o sujeito
que necessita da sensação do proibido, envolvendo a não permissão do outro,
para excitar-se, como no caso de alguns exibicionistas que exibem seus órgãos
sexuais para pessoas desavisadas, nas esquinas, em frente de escolas; em geral
para pessoas estranhas ao seu convívio. O elemento de surpresa e de não
permissão, que está por trás de seu ato proibido, são os elementos que o
excitam. Fato que não aconteceria se fosse visto por ele, ou por outras pessoas,
como algo natural e permitido. A transgressão é o princípio deflagrador e
excitador de tal ato. Originando também atos modernos como comportamentos sexuais
autodestrutíveis, como os praticados pelo movimento de homossexuais masculino
denominado de BAREBACKE, em que o prazer sexual está em transgredir normas de
saúde, possibilitando assim a transmissão e a infecção pelo vírus da AIDS, por
meio do relacionamento com indivíduos desconhecidos, principalmente com
indivíduos já infectados pelo vírus da AIDS, sem uso de preservativo.
COPROFILIA é a
atração sexual por fezes humanas; que pode ser acompanhada, muitas vezes, por COPROFAGIA; que, por sua vez, significa
o prazer sexual em ingerir fezes.
Como em todas as formas de extremismos, em
que uma atitude extrema é alcançada gradativamente por meio de graus menores de
extremismos, o sexo anal e a anilingua (manipulação anal por meio da língua)
poderiam ser mesmo visto como um caminho que levaria do SADISMO e MASOQUISMO à COPROFILIA, já que este tenderia a
proporcionar contato com fezes humanas.
Seguindo esta linha de raciocínio, a
COPROFILIA seria a culminância de um processo de associações graduais, em que,
a princípio, o futuro coprófilo sentiria atração normal por nádegas, e,
gradualmente, estenderia seu desejo ao ânus; em seguida, movido por meio de
associações e TRANSGRESSÕES graduais, teria sua atração voltada para a
defecação do ser desejado; culminando, finalmente, no prazer de manusear,
cheirar, ou até mesmo ingerir fezes humanas.
Há que se levar em conta também outros
elementos, como o FETICHE; uma atividade
profundamente simbólica, relatado mesmo por muitos praticantes de tais
atividades; em que as fezes humanas ganhariam uma proporção gigantesca de
simbolismos e metáforas em relação ao ser desejado. E em que o contato com as
fezes seria visto como “uma oferta de profundidade do interior de um desejável
corpo, tornando-o muito, muito íntimo”. Seria como um canibalismo simbólico, em
que o contato com as fezes, a ingestão desta, seria como a absorção simbólica
do objeto do desejo em seu grau máximo de intimidade.
Há também, sem dúvida, um ato de desafio, de
proibido, em tal atividade que a muitos, em si, representaria um estímulo a
mais.
Para alguns masoquistas o ato significaria
submissão e auto degradação simbólica ao ser amado. Por isso, tal prática
novamente teria um grande valor em comportamentos religiosos.
Aqui novamente, o que para muitos seria
considerado repulsivo, tornar-se-ia um ato santo quando visto pelos olhos da fé
cristã, ou não seria melhor dizer: quando visto pelo MASOQUISMO CRISTÃO? Como podemos ver em alguns casos:
Santa Marguerite-Marie Alacoque (1647-90),
transformava vômitos de doentes em seu alimento; mais tarde ao ingerir fezes de
uma doente, declarou que tal ato suscitava nela visões, em que esta aparecia
atrelada com a boca nas chagas de Cristo.
O profeta Ezequiel, foi ordenado por Deus a
comer fezes humanas: “E o que comeres será como bolos de cevada, e cozê-los-ás
sobre o esterco que sai do homem, diante dos olhos deles.” Ezequiel 4:12. No
entanto, este ao protestar, Deus muda de ideia, porém sem mudar de método: “Vê,
dei-te esterco de vacas, em lugar de esterco de homem; e sobre ele prepararás o
teu pão.” Ezequiel 4:15.
CONCLUSÃO
Como foi visto, algumas parafilias não são
mais vistas como perversões, crimes ou doenças mentais, desde que não sejam
capazes de substituir o sexo convencional por completo e que sejam praticadas
ESPONTANEAMENTE pelo casal, sem prejuízo para ambos e terceiros; havendo mesmo
muitos que advogam que o sadomasoquismo praticado por casais não sejam mais
rotulados como parafilia.
O sexo como atividade humana, não se prende a
um modelo único, como o modo correto de ser feito, rotulado de normal; ele
abarca certo grau de subjetividade e fantasia que tal ideia não pode conter.
Sendo que o que se convencionou de normal dentro da sexualidade humana, como a
ideia católica do sexo apenas para fim de procriação, revela-se como uma ideia
equivocada e, como mostra a história, mesmo perigosa. O sexo possui, por
exemplo, como é visto no reino animal, papeis que vão além da própria
procriação, ele promove a sociabilidade entre os indivíduos, e uma hierarquia
social, natural, que identifica no líder a coerção do grupo, etc.,
comportamentos fundamentais para a manutenção da vida de muitos animais,
inclusive o homem.
Dentro de um rígido sistema moral, a
transgressão passa a tornar-se um elemento fundamental, pois mesmo que a única
lei que vigorasse na natureza fosse a lei da força bruta, tal lei não seria causa
de perversões sexuais, já que a transgressão, como elemento principal,
deflagrador da perversão, não existiria, pois para que houvesse tal elemento,
seria preciso que o sujeito transgredisse leis morais. O que só pode existir em
sociedades com definido e rígido sistema moral. Aí está a grande sacada de SADE:
as perversões são frutos da sociedade. De uma sociedade que ao proibir o que é
natural no homem, como o desejo sexual, acaba, enfim, por intensificá-lo. Pois,
bem sabemos que, tudo que é proibido é mais procurado.
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