terça-feira, 10 de junho de 2014

CONTO: A BELA DOS CEGOS (de Bosco Silva)



Teresa possuía um corpo magnífico e um belo rosto, porém o que lhe sobrava de beleza transborda de timidez. Desgostava-lhe ser cobiçada por tantos homens, com seus olhares indiscretos e vulgares. Era tão envergonhada que somente se sentia à vontade quando estava só. E quando sozinha em seu quarto, em suas horas vagas, enfrente ao espelho, a fazer poses, imaginava-se como modelo de pintores famosos que, inspirados em sua beleza, pintariam os mais belos quadros. Quadros cuja vergonha impedia que existissem. E assim era Teresa um misto de beleza e horror a olhares vulgares. Por isso adorava seu trabalho em que sua beleza não possuía nenhum valor vulgar; e embora nunca estivesse sozinha a trabalhar, sempre lhe dava a impressão de estar só. Teresa trabalhava em meio a dezenas de cegos.
Todos os dias, ao chegar ao trabalho, seguia um ritual matinal: respirava fundo, e como por mágica, desfazia-se instantaneamente de sua timidez, passava a se sentir a mulher mais devassa do mundo enquanto tirava as roupas devagar do corpo, cantarolando alguma melodia sensual, um strip-tease improvisado em meio a sua pequena plateia de cegos que ignoravam por completo o que fazia; e assim, nua, passava a cuidar das dezenas de ceguinhos em suas tarefas diárias. 
E quando levava-os para tomar banho, enfileirados, imaginava estar em uma praia de nudismo, contornada por dezenas de garanhões, encarando-a com naturalidade; e ela fingia não ligar para aquelas dezenas de pênis flácidos, como devia se comportar alguém que estivesse acostumado com tal ambiente.
Na hora do almoço, enquanto servia os cegos, aproximava a vagina próximo de suas bocas enquanto estes mastigavam; divertia-se ao se ver quase tocada por suas línguas naquela região tão sensível de seu corpo. E os que tinham grandes bigodes lhes fazia gargalhar de cócegas.
Porém um dia algo estranho aconteceu. Em meio a mais um banho comunitário, entre tantos membros flácidos, Teresa notou que um pênis havia se levantado. Foi então que descobriu que em terra de cego quem tem um olho é rei.

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