Confesso que até recentemente não conhecia a história de Buck Angel; uma história de vida que nos faz indagar:
o que leva alguém a se sentir como homem ou mulher? Será mesmo aquilo que trazemos
entre as pernas? Seria isso suficiente para classificar alguém como masculino ou feminino?; ou: necessitaríamos de algo muito além do que o
meramente físico? Leiam a história de Buck Angel e tire suas conclusões.
Nascido como mulher, em
1973, em Los Angeles, Buck sempre se sentiu um garoto desde a mais tenra idade.
O que, durante sua infância, não foi problema para seus pais o comportamento
masculino da “filha”, que sempre se dedicou a atividade esportivas, como uma
forma de mascarar seu comportamento que não condiziam com os de uma menina,
driblando assim vestidos e lacinhos tão comuns a crianças do sexo feminino. Porém
as coisas começaram a mudar com a chegada da adolescência: os pais de Buck
começaram a exigir que assumisse a identidade feminina.
Buck Angel Antes de sua Inacreditável Transformação |
Aos 16 anos veio o
primeiro surto. Ao lhe proibirem de entrar em uma importante competição, devido às
notas baixas na escola, Buck tenta o suicídio. O que o levou a ser encaminhado ao
psicólogo. Foi lá que revelou pela primeira vez que sempre se sentiu um homem. E
logo foi classificado por especialistas como um doente.
Tentando se adaptar a
este novo momento, Buck recebeu reposição hormonal e tentou se assumir como
mulher, assumindo o papel que a família esperava. Ele tornou-se até modelo
profissional e fotografou para inúmeros editoriais com sua imagem feminina. No
entanto ele ainda era infeliz, o que o levou a envolver-se com álcool e drogas.
Ele chegou a se machucar,
como forma de extravasar o que sentia: “Eu fazia cortes no meu rosto para
aliviar a tensão em que vivia. Com o corte, parecia que saía ar e a diminuía a
pressão em minha cabeça”, conta ele.
Foi então que, com a
maturidade e independência, passou a adaptar seu físico a sua personalidade,
assumindo o homem que existia em si. E, através de tratamento hormonal, passou
a desenvolver músculos, barba, tirou os seios, e transformou-se em um homem
perfeito, menos em um importante detalhe: preferiu manter-se com vagina.
“Não faria a cirurgia
caso tivesse o dinheiro, pois este pênis não seria funcional. Além disso, amo a
minha vagina e ela não me faz menos homem que nenhum outro. Hoje, quero levar a
minha mensagem para as demais pessoas e provar que somos pessoas comuns”,
declara que nos últimos anos se tornou ativista e passou a dar palestras sobre
educação sexual pelo mundo.
E, finalmente, Buck Angel transformou-se em
ator pornô, ficando conhecido mundialmente através do filme V de Vagina [2006],
como o ator pornô com vagina. Passando a contracenar com mulheres, mantendo
relação sexual munido de um falso pênis de borracha. E Buck foi tão bem em sua
nova carreira que logo foi agraciado com o prêmio, em 2007, de Melhor
Performance Transexual no AVN Award. O que o levou a galgar novos patamares na
indústria de filmes pornôs, passando a atuar com travestis e homens héteros,
assumindo o papel passivo.
Mas sua carreira na
indústria pornográfica não foi tão fácil, mesmo lá Buck Angel passou por
preconceitos:
“Já recebi os mais
pervertidos pedidos aqui, mas nunca nada como você, de alguém que queira ver um
vídeo gay de um homem com vagina. Não acho que vá conseguir provar ao mundo que
não é uma aberração. Se nem os gays e lésbicas conseguiram ainda, dificilmente
você conseguirá”, disse um conhecido produtor de filmes gays. Ou:
“Quando ele me convidou
para fazer um filme ao seu lado, fiquei impressionada. Porque eu nunca tinha
feito sexo com... Não sei como falar... Com uma vagina, digamos assim”,
exclamou a atriz trans Wendy Willians.
Através de seus filmes Buck tenta demonstrar sua
existência e dizer para o mundo que existe, sim, homens sem pênis e com vagina:
“Não sou uma aberração, afinal existem
milhares de outros homens como eu pelo mundo”.
À frente do seu tempo,
Buck misturou as normas, sexualidades e concepções sobre o que é sexo
biológico. Quem é gay? Hétero? Homem, trans ou mulher? Por meio de filmes
eróticos – sim, quem diria?, dos filmes pornôs - provou que qualquer pessoa
pode se relacionar na tendenciosa e engessada sopa de letrinhas. Além de
inspirar muita gente, fez ainda a categoria trans entrar no mais requisitado
prêmio pornô.
O pai do ator revela que
ainda hoje é complicado aceitar todas as transformações. Bill tropeça ao falar
“filho”, insistindo que ainda existe uma “filha” e chora ao dizer que este é um
assunto sobre o qual eles pouco conversam. “Não comentamos, apenas vivemos”,
diz ele, antes de chorar e emocionar a todos que assistem ao depoimento.
Buck e a Esposa |
Atualmente, Angel tem uma
nova família e a sua eleita é a aplicadora de piercings, Elayne – uma mulher
moderna, de cabeça rapada, repleta de tatuagens e piercings.
“Sei que os filmes pornôs
são trabalhos e que não há sentimentos. Para tudo existe um limite e sabemos onde
ele é”, declara a esposa.
Nos últimos anos, Buck
teve alguns problemas de saúde devido à quantidade de hormônios masculinos que
usou no decorrer da vida sem prescrição médica. Ele brinca que, nesta altura da
vida, não entende porque está indo ao ginecologista e se diverte com a reação
inesperada das atendentes.
Elayne revela que, embora
os médicos tenham descartados os hormônios, Angel já declarou que não vai
parar. “Ele já disse prefere morrer que parar com os hormônios. Então, sabendo
o quanto isso é importante para ele, eu não questiono. Fico triste porque quero
uma vida longa para o meu marido, mas respeito as suas decisões”, frisa.
Diariamente, Buck recebe
e-mails e mensagens de transhomens de todo o mundo. Muitos deles pedem
conselhos e até dinheiro para que consigam sair de casa ou fazer as cirurgias.
“Mas mesmo que eu tivesse esse dinheiro, eu não daria. As pessoas devem ser as
responsáveis pela própria felicidade”, defende o ativista, que criou em 2012 o
BuckAngelDating.com, um site de namoro para homens trans.
Nas feiras eróticas, é a
esposa quem fica com a missão de explicar pacientemente para o público quem é
Angel. “É um hermafrodita?”, pergunta um curioso. “Não é um homem com vagina.
Ele nasceu com o sexo feminino, mas é um homem”, diz. De acordo com Buck, em
alguns momentos há quem pense que se trata um homem com um micro-pênis...
“Devem pensar, coitada dessa mulher [risos]”. Abaixo, trailer do documentário sobre a vida do Buck Angel:
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