terça-feira, 15 de janeiro de 2013

ASFIXIA ERÓTICA: O TÊNUE LIMITE ENTRE O PRAZER E A MORTE (por Bosco Silva)



No romance SEXO, PERVERSÕES E ASSASSINATOS o autor transita através do estranho e misterioso mundo do sadomasoquismo, abordando gostos sexuais que muitos chamariam de bizarro, pertencentes a este mundo anônimo, onde a dor, a humilhação e o prazer se confundem de tal maneira que se torna impossível diferenciá-los. Assim, no livro, há aqueles que se excitam com lambidas em delicados pés femininos, ou sendo pisados por pés femininos calçados com sapatos de finíssimos saltos; um mundo que, aos poucos, ao lermos o romance, descobrimos que não é tão distante de nossa realidade, pois quem nunca ouviu histórias sobre um fulano, amigo do amigo de um amigo, que possui desejos estranhos como preferir mulheres grávidas ou menstruadas, fantasiando, durante o ato sexual, ter-lhes desvirginado?

Este mundo escondido, guardado na penumbra do anonimato, à sete chaves, cheio de desejos estranhos, aos poucos vai sendo vasculhado pela mídia, pelas beiradas, como fazemos quando comemos algo delicioso mas quente, com pequenas colheradas, por meio de filmes e livros que abordam o assunto como inocentes jogos amorosos entre casais, mas esquecem o lado mais extremo deste: o centro quente do prato. Contudo, algumas vezes, este mundo deixa-se mostrar da forma mais terrível e direta possível, por meio de acidentes que vitimam seus praticantes, ou por meio de livros como o SEXO, PERVERSÕES & ASSASSINATOS. E embora haja a descrição de dezenas de desejos sexuais não-convencionais e curiosidades sexuais no romance, como o bondage, o bukkake, a bestialidade e a coprofilia, um possui especial valor já que é importante para a trama policial do livro: a asfixia erótica, que algumas vezes deixa o anonimato e invade as páginas de jornais, demonstrando da forma mais direta possível sua existência,  como os conhecidos casos de morte por asfixia auto-erótica, do ator David Carradine e do roqueiro Michael Hutchence da banda INXS.

Acima, o corpo de David Carradine

O romance, desde sua primeira página, aborda esta obscura prática sexual de se obter prazer por meio da falta de oxigênio, através do enforcamento produzido por objetos como cordas, cinto ou sacos plásticos; praticado com um acompanhante, sendo um dos parceiros o agente do enforcamento, ou sozinho, no caso da masturbação. E aqui mora o perigo, já que ao estar sozinho o praticante pode desmaiar e perder o momento certo de desfazer a asfixia.

Tal prática cresce vertiginosamente entre os jovens.

“Descobri que o sufocamento me excitava durante a adolescência, quando lutava jiu-jítsu e curtia golpes como o mata-leão. Sentia uma moleza boa, parecida com a do orgasmo. Anos depois, descobri que aquela era só uma das minhas tendências sadomasoquistas.” Afirma A chef de cozinha Margoth, 26 anos*.

No romance, durante a autópsia de alguém suspeito de ter morrido afogado, perante evidências como “um leve filete de esperma no pênis; sinais de enforcamento, como face arroxeada e marcas no pescoço; além de marcas e roxuras nos pulsos”. O personagem Moreira, contrariando tal possibilidade, questiona:
“Mas estes não poderiam ser apenas sinais de enforcamento?”

E em seguida, perante a perplexidade da legista, explica:
“Sempre ouvi falar que os enforcados sempre gozam antes de morrer, ou, pelo menos, estes sempre expelem esperma”.

E obtém da legista uma resposta irônica:
“Ééééééééh!... Talvez, seja por isso que eles sempre estão com a cara comprimida, de gozo. E a língua esticada? Sinais de sexo oral, não, investigador? – indagou a bela legista aos risos. - Não se deve dar sempre ouvidos ao que o povo fala – respondeu-lhe Renata, finalizando a frase com um leve piscar com seu olho esquerdo”.

O que surpreende na pergunta do personagem Moreira é que, conhecendo bem a asfixia erótica, a pergunta não parece ser tão descabida como supõe a legista, e o autor do livro conduz a história de tal modo a levar o leitor a se surpreender com o que é dito, em seguida, pela legista:  
“Bem, há relatos de que alguns homens morrem na forca com o pênis ereto. O que demonstraria, no máximo, uma relação obscura entre o estrangulamento e a fisiologia do prazer sexual. Mas não devemos exagerar tanto, investigador, pois se assim fosse certamente teríamos milhares de enforcados ao ano”.

Acima, uma das curiosidades apontadas no livro:
Alguns homens morrem na forca com o pênis ereto.

Assim, o que parecia ser um absurdo ganha aos poucos fundamento, até descobrirmos que cerca de 500 a 1000 pessoas, só nos Estados Unidos, são vitimadas a cada ano praticando a asfixia erótica, embora em muitos casos sejam interpretados como suicídios. Qual seria então a obscura relação entre o estrangulamento e a fisiologia do prazer sexual?

O psiquiatra Luiz Sperry César, do Hospital Emílio Ribas, explica:
“Durante a asfixia, o nível de oxigênio no cérebro diminui e produz um torpor semelhante ao do orgasmo”.

Já o psiquiatra Afonso de Albuquerque nos explica que "ao nível do cérebro, o lóbulo frontal vai sendo desligado pela falta de oxigenação. Ficam assim desinibidas todas as estruturas que gerem o autocontrole, o que leva ao aumento da intensidade das fantasias, da ereção, chegando mesmo a atingir-se o orgasmo".

Segundo o Dicionário Da Vida Sexual: “O pescoço é um istmo pelo qual passam canais e nervos relacionados com todas as funções vitais, principalmente porque estabelecem conexão entre o encéfalo e o corpo que ele comanda”.

Por esta razão o pescoço tem obtido especial atenção nos momentos mais eróticos, com beijos, mordidas e também asfixia.

*www.mfdmargoth.blogspot.com.br

Abaixo, um vídeo do INXS



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