O
que lhe motivou a escrever o livro “Sexo, Perversões e Assassinatos”?
BOSCO
SILVA: Sempre ouvimos alguma história sobre alguém que
possui comportamento sexual que para muitos é tido como “estranho”: da mulher
que, durante suas relações sexuais, implora por tapas (há até música sobre o
tema), de outra que se masturba ao andar de bicicleta, do homem que prefere ter
relações sexuais com mulheres menstruadas fantasiando tê-las desvirginado, etc.
O engraçado é que tais gostos sexuais são sempre atribuídos a terceiros, nunca
a si próprio. É um mundo que acontece sob o anonimato, mas que com o advento da
internet, com seus milhares de sites dedicados ao tema, vemos que há um grande
público sedento por esta forma de conteúdo. E que também tem reflexo na
literatura, basta citar que um dos mais recentes sucessos literário mundiais é
o livro “Cinquenta Tons de Cinza”, da inglesa E. L. James, que conta a
história de uma mulher que tem sua curiosidade despertada, por seu amante, pelo
mundo do sadomasoquismo. E assim o que julgávamos estranho é muito mais comum
do que se pensa. Este mundo sexual anônimo sempre me causou interesse, com suas
histórias impressionantes, então pensei, já que também causa interesse a
outros, por que então não unir questões sobre o tema a outra de minhas paixões,
histórias policiais, com elementos reais que superam a mais fantasiosa ficção,
aproveitando temas atuais, como a pedofilia, descrevendo e analisando várias
formas de perversões por meio de perfis psicológicos e sexuais de vários
personagens, tendo como instrumento as ideias do maior ícone de todos os
pervertidos, Marquês de Sade. Seria uma história explosiva! Então a criei.
Qual o objetivo do livro?
BOSCO
SILVA: O livro “Sexo, Perversões & Assassinatos” tem
como objetivo levar o leitor a uma viagem sem preconceito ao alucinante e
obscuro mundo do sadomasoquismo; um mundo composto de pessoas que só obtém
plena satisfação sexual com práticas não consideradas “normais”: são pessoas
que precisam de algo além do que o sexo convencional pode lhes dar, este algo
pode ser a dor ou o desejo sexual voltado para objetos ou partes específicas do
corpo humano, ligados indiretamente ao sexo, como botas de couro, pés, etc. Uma
viagem que parte de inocentes jogos sexuais, envolvendo cordas, chicotes e
algemas, que apimentam um relacionamento a dois, em que um dos parceiros assume
uma postura submissa, a um sadomasoquismo mais extremo (hard), onde há também
desejos por secreções e excrementos humanos; e por fim, a um último estágio que
tem a morte como sua finalidade, como é o caso extremo dos necrófilos. E embora
o livro passei por várias formas de atividades sexuais, que em muitos casos tem
como modelo a obra de Sade, ele se concentra em uma forma específica de
atividade sexual que é importante para a trama policial, a asfixia erótica.
Qual a característica principal desta forma de fetiche?
BOSCO
SILVA: A asfixia erótica é uma atividade sexual
relativamente comum em grupos de pessoas que praticam o sadomasoquismo, pode
ser praticada em duplas, durante o ato sexual, ou sozinha, durante a
masturbação, tem como finalidade a intensificação do prazer sexual por meio da
privação de oxigênio.
Em seu livro você toca em dois casos famosos de suspeita de asfixia erótica, que são os casos do ator americano David Carradine e do vocalista da famosa banda de rock australiana da década de 80, Michael Hutchence do INXS. Comente um pouco sobre isso.
BOSCO
SILVA: São dois casos já bastante famosos na internet,
ambos foram encontrados nus com corda e cinto, envolta do pescoço,
respectivamente. É uma atividade perigosa, só nos Estados Unidos, por exemplo,
estima-se que entre 500 a mil pessoas morram por ano praticando-a. Contudo, na
maioria das vezes, são interpretadas como homicídio ou suicídio.
Embora o livro seja classificado como policial, ele possui outros aspectos importantes?
BOSCO
SILVA: Sim, possui dois aspectos que para mim são bem
mais importantes que a trama policial, e que são usados como pano de fundo: um
em que é discutida a sexualidade humana, principalmente sobre a questão “o que
é normal em matéria de sexo?”, em que são analisadas algumas “perversões”
sexuais e discutida o porquê de alguns casos serem proibidas; qual a parcela de
culpa da sociedade naquilo que tentam justamente proibir; e a outra, uma
concepção filosófica que toma o escritor Marquês de Sade como uma das
personalidades fundamentais para o entendimento da sexualidade humana, visão
que é contraposta, por sua vez, ao senso comum que vê este autor apenas como um
pensador pornográfico e pervertido, incapaz de outro mérito a não ser o de ter
servido de modelo para a psiquiatria, como um modelo por excelência de sádico.
Como surgiu o interesse por Sade?
BOSCO
SILVA: Cheguei a Sade como a maioria: o conheci por meio
de matérias sobre sua literatura ácida, que mistura sexo, dor, morte e
excrementos, e também de suas ideias extravagantes e comportamentos de vida
excessivos, como, por exemplo, o seu famoso prazer em chicotear prostitutas.
Mas, ao contrário da maioria, que permanecem nesse aspecto somente, me senti
muito mais atraído por suas ideias e história quando percebi o que há por trás
de tudo isso, as ideias que justificavam seus atos.
E o que há?
BOSCO
SILVA: Há um grande pensador, que foi o primeiro a
questionar e conceber uma nova interpretação de liberdade, independente da
tradição de 25 séculos de pensamento grego. Um pensador injustiçado, que, ao
ter misturado, revolucionariamente, pornografia e filosofia, jamais - mesmo que
cada vez mais seja valorizado - será devidamente respeitado. Mas esta mistura
explosiva era necessária ao seu pensamento, pois ele foi um dos primeiros a ver
a grande influência da sexualidade na mentalidade humana, por isso ele foi o grande
catalogador das perversões sexuais de seu tempo. E por meio delas ele queria
entrever os limites do humano. Uma das grandes sacadas de Sade, que creio
exemplifica bem seu trabalho, é a afirmação de que as sociedades humanas
ganhariam muito se liberassem mais modos do ser humano extravasar seu sadismo e
masoquismo naturais; e isto é a pura verdade, e já era sabido pela antiguidade,
pelo menos de modo inconsciente, por isso sempre vemos na história humana
atividades ligadas a esse modo de pensar, desde os antigos espetáculos de
sangue do coliseu romano, aos vídeos games violentos e, por sua vez, as lutas
de vale tudo de hoje; tudo isso são meios de liberar o sadismo, não são apenas
“pão e circo”.
Quando você comenta sobre seu livro, quais são as perguntas mais frequentes sobre ele?
BOSCO
SILVA: Quando se fala sobre sexo, é comum que apareça
logo alguém com algum comentário engraçado ou pergunta ofensiva, eu não fui
exceção a esta regra. É como se fosse impossível falar com seriedade a respeito
de sexo, talvez isso demonstre que o sexo ainda é um assunto bastante polêmico
e tabu para muitos, e justamente por isso alguns tentam descontrair o assunto
fazendo estas piadas, por isso o livro traz suas pitadas de humor também, eu
diria de um humor negro e ácido, para torná-lo mais descontraído, um humor que
aparece desde sua primeira página. Mas a pergunta que mais me fazem a respeito
do livro, é o quanto de experiência própria foi necessário para sua feitura.
Então aproveitando o ensejo, quanto de sua experiência há no livro?
BOSCO
SILVA: Eu diria que o mais importante foi minha vivência
com uma população que tem por hábito frequentar a noite, as casas noturnas de
shows eróticos e também as minhas conversas com prostitutas. Na noite, há uma
tendência maior à liberação das paixões, dos desejos. É como se o dia fosse
dedicado aos compromissos sociais e a noite fosse dedicada às paixões do corpo.
Nisso há certa semelhança entre a noite e as guerras, tomada as devidas
proporções, claro, pois assim como aquelas, nestas, uma vez afrouxadas as
regras sociais, impera os desejos mais primitivos dos homens.
Em tempos de tanta liberdade sexual ainda é necessário um livro que debata a repressão sexual?
BOSCO
SILVA: Como é citado no livro, um elemento importante do
sexo, que é muito negligenciado, é a transgressão; ela também é fonte de
prazer, que tanto pode gerar atos de vandalismo quanto prazer sexual. É ela que
na maioria das vezes está por trás, por exemplo, de casais que gostam de
praticar atos sexuais em público ou pessoas que possuem interesse pelo incesto.
Sendo assim, mesmo que haja uma maior liberdade sexual, sempre haverá aqueles
que procurarão ir além dos limites, que procurarão transgredir as regras, que
nunca estarão satisfeitos com elas, sejam em que grau de liberdade for. O que
não quer dizer que terão sempre atitudes extremas, poderão ter também atitudes
conservadoras, já que o importante para essas pessoas é transgredir as regras
vigentes. Assim sendo a transgressão poderá gerar casos de pessoas que agridem
aquelas que se beneficiem de uma maior liberdade sexual, como os homossexuais.
Deste modo o livro fala não apenas de repressão sexual mas também de liberdade
sexual e de sua relação com a transgressão.
A internet teve alguma influência em seu trabalho?
BOSCO
SILVA: Sim, claro, graças a ela tornou-se viável a
pesquisa para o livro, já que ninguém sai por aí contando, livremente, sobre
suas fantasias, principalmente se essas fantasias fogem do convencional: o
mundo do sadomasoquismo é bastante fechado. Assim prestei bastante atenção em
redes sociais, fóruns, comunidades, etc. de sites sadomasoquistas. E
pesquisando algumas dezenas de sites, e sendo sites pagos, que oferecem a seus
clientes todas as formas de fetiches, desde o mais usual ao mais escatológico,
vemos logo que o que achávamos ser algo incomum é bastante comum, sendo
bastante praticado sob a penumbra do anonimato, com sites tendo milhares de
acessos diários.
E o que você encontrou que lhe chamou mais atenção?
BOSCO
SILVA: A indústria pornô japonesa, pois é bastante
interessante. Os japoneses são responsáveis pela criação de atividades sexuais
que fogem totalmente do convencional, que chega até ser engraçado. Isso tem uma
explicação simples: como a indústria pornô japonesa é tolhida por uma lei que
proíbe que órgãos sexuais sejam mostrados sem tarjas eletrônicas que dificulta
a visualização destes, o jeito foi encontrar formas de sexo que fugisse deste
empecilho investindo mais nos fetiches, assim há filmes de mulheres vestidas
que se esfregam em objetos caseiros, como maçanetas, quinas de mesas, etc.,
como substituto para pênis. O que originou, por sua vez, o famoso bukakke, que
é o banho no rosto de mulheres com o esperma de dezenas de homens. E embora
haja esse limite, a indústria pornô japonesa é bastante diversificada havendo
até mesmo filmes que beiram o crime, como filmes com mulheres pequenas e de
rostos infantis, em cenários imitando móveis caseiros enormes, para que dei a
impressão de ser um filme com crianças, sem falar dos filmes com coprofilia
(sexo com fezes humanas), enema (sexo com lavagens intestinais) e vômitos. Mas
saindo da área dos japoneses, vi um site que a atração principal é a ejaculação
nos olhos das atrizes; um outro que beira a necrofilia, já que mostra a
extração de vaginas de cadáveres. E há também aqueles em que anônimos tornam-se
famosos mostrando suas aventuras sexuais, como um em que o sujeito enfia um
vidro de maionese no ânus, quebrando-o em seguida e expelindo bastante sangue.
Isto tudo apenas na internet convencional, mas há também a chamada Deep Web,
uma parte obscura da internet, em que os Googles da vida não conseguem
identificar os sites e seus conteúdos, aí a coisa pega fogo, havendo desde
sites ligados a terrorismo à pedofilia e ao canibalismo. Bem, em suma, há
espaço na internet para todos os gostos imagináveis; coisas que nem mesmo Sade
sonhou.
Em seu livro você também fala sobre as sociedades secretas ligadas ao sexo.
BOSCO
SILVA: Sim, descrevo algumas delas. Em geral as pessoas
associam sociedades secretas apenas com misticismo ou com o crime, como a Máfia
ou a Yakuza, a máfia japonesa, embora estas, em alguns casos, trabalhem com o
tráfico de mulheres para a prostituição, mas há também sociedades secretas ligadas
exclusivamente ao sexo. No século XVIII, havia centenas delas, como a Ordre de
Cythère e a Société du Moment. Elas possuíam códigos secretos e rituais de
iniciação. Houve na França, no começo do século XX, sociedades secretas de
estranguladores sexuais. No livro eu tento situar essas sociedades nos tempos
de hoje. Especulo o quanto ganhariam estas sociedades com a discrição da
modernidade, com a internet, por exemplo. Os pedófilos são um bom exemplo
disso. Eu não me surpreenderia, nem um pouco, se houvesse uma grande sociedade
secreta internacional de pedófilos.
Por último: O livro visa a que público?
O
livro tem como leitor ideal pessoas que querem conhecer os extremos do
sadomasoquismo, adornado por uma história policial, com suspense, horror e
pitadas de história dos costumes sexuais, incluindo os gostos sexuais de
importantes escritores. E também, claro, aqueles que sentem interesse em
conhecer melhor o pensamento e a obra do Marquês de Sade. Portanto, ele não
agradará aos que desejam uma história de amor envolvendo joguinhos sexuais
picantes com chicote e algemas.
Acesse
o link a seguir para ler os primeiros capítulos de “SEXO, PERVERSÕES &
ASSASSINATOS”:
https://clubedeautores.com.br/book/130007--SEXO_PERVERSOES__ASSASSINATOS
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