PARIS,
3 DE ABRIL DE 1768. UM DOMINGO DE PÁSCOA...
Uma
luxuosa carruagem segue pelas estreitas ruas de Paris, contrastando com os
sujos e fétidos andrajos do povo, que se acumulam em busca de alimentos e de
emprego. A fome assola Paris; e as pessoas dividem com os ratos restos de
alimentos que caem ao chão.
Uma
bela mendiga, que mesmo vestida por sujos e esfarrapados vestidos, que não
obliteram sua beleza, se interpõe enfrente a carruagem estendendo a mão,
clamando por ajuda, por algo que possa diminuir-lhe a dor de sua miséria. A
carruagem para, a porta se abre, e uma mão ostentando grossos anéis de ouro
joga-lhe algumas moedas. Em seguida, o nobre cavalheiro lhe oferece emprego;
ela então entra na carruagem, e esta segue seu caminho, cortando as fétidas
ruas de Paris, seguindo rumo aos negros bosques de pinheiros.
Pelas
janelas da carruagem dá ainda para ver o maravilhoso entardecer, que logo é
sucedido por uma noite de luar, que parece animar as obscuras criaturas
noturnas da floresta. E apenas o trotar dos cavalos é ouvido, quebrando o
silêncio da negra floresta, com seus velhos e altos carvalhos e eucaliptos.
O
homem, ricamente vestido, mantém-se em silêncio, enquanto a jovem mulher dá
pequenos sorrisos de felicidade.
O
tempo passa; e percorrendo uma antiga estrada recortada por voos de corujas e
morcegos, segue a carruagem, seguida apenas pela imensa lua cheia, que mal
consegue clarear a estreita estrada que corta bosques, vales e pequenas
montanhas, minadas por pequenos brilhos de vagalumes que se confundem com o
brilho das estrelas.
E
após transpor um imenso portão, seguem por uma pequena estrada, ladeada por
inúmeras estátuas de faunos com enormes falos, que servem de apoio para enormes
lampiões, em meio a um grande jardim com inúmeras flores vermelhas de todas as
formas; em cujo o final, pode-se entrever uma grandiosa casa, ricamente
adornada por grossas colunas e janelas ricamente trabalhadas.
Ao
chegar, é levada para uma suntuosa sala; e em seguida, guiada por um empregado,
por um imenso corredor com dezenas de portas; um corredor negro, repleto
de quartos,onde se pode ouvir sussurros e gemidos de corpos que se entregam com
imensa devassidão, alguns entreabertos, clareados apenas por grossas velas,
como numa masmorra. Num dos quartos, há uma grande cadeira dourada, com o
acento e o encosto em cor vermelha, ao qual uma bela mulher está sentada. Ela
usa espartilhos e longas botas de couro negro, e também meias de seda negra;
tendo, sob seus pés, um homem seminu, de joelhos, que lambi suas botas enquanto
se masturba. Mais adiante, em outro quarto, outro homem nu, de cócoras,
engaiolado, em uma gaiola de ferro com um enorme cadeado em sua pequena porta.
E ao continuarem, encontram, em outro quarto, um casal de lésbicas; uma
algemada em uma grossa coluna, apenas vestida por uma longa meia; e enquanto a
outra lhe bati nas nádegas com uma grande palmatória, beija-lhe a boca,
abafando os gritos. O cheiro de sexo pareci exalar de todos os
cantos e por todos os poros daquele lugar; por fim, chegam a um enorme quarto,
luxuosamente decorado, com ricos quadros e cadeiras com pequenos enfeites de
ouro incrustrado a madeira. O empregado, antes de deixá-la só, lhe diz que
aguardasse seu Patrão.
O
homem, um jovem senhor pertencente a uma das mais nobres famílias francesas,
adentra o quarto; fecha a porta. Ele a examina, contornando ao seu redor com
olhos vidrados de desejos por aquela doce mulher tomada pela miséria; e
imediatamente lhe ordena que se dispa; ordem que é tomada entre um misto de
apreensão e o desejo pelo trabalho. Sua blusa é então tirada à força de seu
corpo, dando-lhe a rapidez que se pede, liberando toda a imensa beleza de seu
corpo magro, branco e jovem, com seus mamilos rosados, a cintura sinuosa e
sedosos pelos pubianos, que quase escondem por completo uma delicada e rosa
vagina, entre duas excitantes coxas bem torneadas. Em seguida, é lhe dado um
tapa no rosto, que a faz cair sobre a cama; e sob a débil tentativa de defesa é
amarrada de bruços sobre a mesma; seu corpo é chicoteado, enquanto se contorce
com dores lancinantes e gritos que são abafados pelas grossas paredes do
quarto. E durante o tempo em que é sodomizada, é forçada a se masturbar com o
crucifixo e a blasfemar o nome de Cristo. Uma pequena lâmina é então erguida
pelo punho de seu algoz, e enquanto acaricia aquele belo corpo feminino
estendido sobre a cama, o nobre francês põe-se a lamber o punhal, sua lâmina, o
frio e reluzente metal; tão frio quanto o coração de quem a impunha.
O
corpo jovem e delicado é, em seguida, picado pelo objeto cortante; o qual
derrama múltiplas gotas de sangue, que escorrem sobre a pele branca, entre
faixas vermelhas feitas pela ponta do chicote; as gotas de sangue são
lentamente lambidas, enquanto o jovem senhor penetra ferozmente em sua vagina.
Uma vela vermelha é então tirada de uma pequena gaveta ao lado, e acesa;
imediatamente, seu sangue é estancado por pingos de cera quente que caem da
vela sobre as feridas abertas; momentos que antecedem a fúria de seu orgasmo,
acompanhado por gritos e gestos alucinantes.
Seu
algoz é um nobre francês de nome Sade.
Este
conto é baseado em fatos reais, neste caso, no sequestro da mendiga Rose
Keller, feito pelo escritor francês Marquês de Sade (1740-1814). Caso que,
graças a fuga desta, permitiu que Sade fosse posteriormente detido, embora
houvesse feito um acordo com sua vítima por meio de pagamento, posteriormente
ao caso.
O
escritor, Marquês de Sade, passou quase metade de sua vida em prisão ou
hospícios, ora por sua vida libertina ora por seus escritos. É o autor do
romance OS 120 DIAS DE SODOMA; obra ainda não superada em violência
e perversão. Seu nome originou o termo sadismo, dado ao prazer sexual oriundo
do ato de agredir e humilhar outro ser-humano.
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