segunda-feira, 23 de junho de 2014

CONTO: O HOMEM TARADO DE DEUS (adaptado por Bosco Silva)



Encontrei-o na Home Depot, uma loja de artigos de casa.
Vejam até que ponto vai o desespero de uma mulher: Eu estava num corredor nos fundos, com uma fita métrica e uma serra tentando cortar, pela metade um rolo de madeira para talhá-lo de modo conveniente a ser usado por uma mulher solitária, naquelas horas em que precisamos demais de um homem. Mas a madeira ficava rolando para fora da bancada de corte e as coisas não estavam indo bem. Finalmente, quando consegui fazer o primeiro corte na madeira, minha bolsa de lantejoulas deslizou de meu ombro e a serra saiu voando de minha mão. Foi então que ele apareceu, pegou a madeira e perguntou se poderia ajudar. Quando o vi com aquele pau rígido, e grande, na mão, disse imediatamente “Ah, sim, claro!”. Bem, talvez esse fosse apenas o filho de um carpinteiro qualquer, mas, naquele momento, me pareceu que aquele homem havia sido enviado por Deus para me salvar de minha solidão.
Ele era alto, bonito, de cabelos fartos e fala suave. Carregou a madeira recém-cortada até o caixa e colocou-a na mala do meu carro. Perguntou se poderia me convidar para comer alguma coisa e atravessamos a rua para entrarmos numa lanchonete. Foi um almoço de quatro horas.
Como pode uma mulher solteira e liberada ter o indescritível prazer do sexo ilícito? Não, não com um homem casado — Deus sabe! — isso nunca foi atraente para mim, mas com homens celibatários... Bem, o sr. Home Depot era um cristão renascido. E um “ex-viciado em sexo”. Ele disse que muitas vezes comia sete ou oito mulheres diferentes numa semana?! Poxa! Ai meu Deus! Poderia esse ser o homem perfeito?, pensei esboçando apenas um sorriso. Deus, o Pervertido e o Farejador de bocetas, todos organizadamente empacotados em um texano de 1,90 metro. E além de tudo ele era jeitoso.
Ele me contou a história de sua conversão. Numa manhã de outubro, bem cedo, numa praia nas Bahamas, depois de uma noite de drogas e muito sexo, Deus — sem ser solicitado — falou com ele, dizendo: “A hora é essa.”
Daquele dia em diante, de qualquer forma, ele tinha se tornado sóbrio e celibatário.
Esse homem não fazia sexo havia 15 anos. Minha imaginação voou com a ideia de todas aquelas ereções desperdiçadas.
Ele conhecia todos os livros da Bíblia, de trás para a frente, e ensinava a Bíblia na escola todas as semanas.
O casamento do Proibido com o Intangível foi meu afrodisíaco mágico: porém percebi com tristeza naquele primeiro e longo almoço que o Renascido e eu jamais faríamos sexo, nunca, e assim meu coração começou a se abrir e minha boceta a desejar inutilmente. De novo o impossível tinha aparecido diante de mim. E para piorar ainda mais minha tristeza, ele tinha as maiores mãos e pés que eu jamais tinha visto, o que sempre tinha ouvido dizer que eram bons sinais de um membro enorme! E escutando sua história, comecei a sentir uma conversão cristã chegando rapidamente até a mim. Ele disse que era difícil encontrar uma boa esposa cristã — a única maneira pela qual ele poderia fazer sexo legítimo novamente. Depois ele admitiu com um sorriso tímido que gostava de mulheres um pouco putinhas — vadias foi a palavra que ele usou. O que me alegrou demasiadamente, pois autenticamente, eu não poderia ser uma esposa cristã genuína, mas vinha praticando putaria e vadiagem já há alguns anos. As contradições desse homem eram tão épicas quanto boas.
Perguntei a ele até onde ele poderia ir sexualmente antes que Deus ficasse com raiva: “Onde é a fronteira?”. Uma hora mais tarde, eu ainda não tinha tido uma resposta. Apenas um suspiro crescente enquanto a língua dele golpeava meu clitóris, no telhado de um estacionamento próximo. E assim eu também estava renovada.
* Paródia baseada em uma passagem do livro de Tone Bentley, A Entraga - Memórias Eróticas

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