MEMÓRIAS DE UMA BONECA INFLÁVEL
NO PRINCÍPIO
EU PODERIA SER QUALQUER COISA DE BORRACHA: um pneu, um isqueiro ou mesmo um colchão inflável; mas o
libidinoso desejo dos homens me tornou o que sou, uma boneca inflável.
E assim,
uma vez concebido meu fim, meu destino estava traçado: fui dobrada,
plastificada, embrulhada, empacotada e, contra minha vontade, posta à venda. E,
finalmente, um dia entregue como presente de aniversário.
Ao sair da caixa, para
minha surpresa, fui ovacionada, senti-me como um prêmio, fui carregada no colo
por todos os presentes por todos os lados; nunca fui tão feliz em minha pobre
vida de plástico.
Após o término da festa meu
dono levou-me feliz para o quarto. Parecia que minha primeira noite, para qual
fui concebida, chegara: eu seria finalmente usada; e enquanto aguardava sozinha
por ele, meu corpo de boneca de desejo queimava. Sei que parece um exagero para
uma pobre boneca inflamável, mas fui concebida para esse fim e por este momento
ansiava.
Ele pôs-me na cama, se
serviu de um copo de vinho; tirou minhas roupas e meus sapatos; acariciou meu
corpo, sentado ao meu lado; beijou meu rosto; deu-me um nome, dizendo-me, com
uma voz fina, que me espantou no momento:
— Ah! mas como estás
chinfrim Ana Flávia, vestida assim! Deixa eu ver o que tenho aqui, uuuuhhh —
disse-me ele olhando o guarda roupa com aponta do dedo na boca. — Bem, esta
parece que vai lhe servir.
E, após vestir-me, para
minha tristeza, pôs-me ao lado de outros brinquedos infláveis. Fiquei lá, ao
lado de uma baleia e de uma girafa, que enfeitavam o quarto.
Na segunda noite ele
entrou novamente no quarto; tirou minhas roupas; meu corpo novamente de desejo queimava;
minha pele de plástico se arrepiava; minha boca secara pedindo para que fosse
imediatamente lubrificada, mas para meu espanto vestiu-se com a roupa que eu
usava. Por fim descobri que meu dono era uma Dragqueem! E que nada podia ser pior
para uma pobre boneca inflável do que não ser desejada.
No dia seguinte me
desesperei, queria a todo custo ser usada, tentei transar com os ursinhos de
pelúcia do quarto, mas alí nada parecia ser másculo. Foi quando, em desespero, joguei-me
da janela do quarto...
Porém fui salva por um bêbado que passava, que levou-me
para um bar. Lá, me pôs ao seu lado a conversar; abraçou-me, chamou-me de
querida Lucila, deu-me bebida, apresentou-me a seus amigos. Foi quando fui
puxada para dançar. Dancei a noite inteira, maravilhada.
Ao fim da noite o velho
levou-me para casa, bêbada. Ao chegar, pôs-me na cama, nua, como eu estava.
Verificou meu corpo; examinou todos os meus orifícios, e por fim enfiou a boca
entre minhas pernas. Dei um leve sorriso, pois parecia que finalmente era
desejada; mas, para minha surpresa, o velho apenas assoprara em minha válvula,
dizendo-me:
— Vou enchê-la mais, para
amanhã repetirmos novas danças pagas.
Passei a frequentar o bar
todas as noites, dançando, rodopiando ou sentada ao balcão sempre com um copo de
bebida na mão. Foi quando três bêbados solteirões me compraram, e finalmente me
apresentaram a um mundo novo de aventuras e sexo sem fim.
Transei à três...
Transei no mar...
E até participei de orgias com outras bonecas...
Mas descobri então que sexo
sem amor não era nada. E mais uma vez o destino me apanhara de surpresa:
conheci John, a quem podia dizer que amava.
Porém mais uma vez o destino
cobraria por meu passado: Estando desgastada por uma vida frívola espoquei
fazendo amor com John sobre as pedras de uma praia.
Que merda
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