domingo, 8 de setembro de 2013

DEZ HISTÓRIAS DE MOTEL



Confira abaixo dez histórias contadas por empregados do motel Myconos de São Paulo para o site Ig, revelando algumas confusões ocorridas e alguns fetiches de clientes.
A GOLPISTA E AMANTE DO ENTEADO
“É uma loira bonita de 37 anos, você olha e não diz que é golpista. Quando a gente passa a máquina do cartão para colocar a senha, ela cancela a operação e reimprime a anterior. Nós chegamos, mas, na correria, às vezes passa. Ela fez isso comigo e com outras duas meninas daqui. Fiquei revoltada. Naquele dia eu liguei para todos os motéis da região, passei nome, RG e placa do carro. Não deu nem 15 dias e ela fez de novo, mas em outro motel. A moça de lá ligou aqui e disse que era a mulher que falei. Fui até lá e tive vontade de pegá-la pelo pescoço. Falei para chamar a polícia, mas ela ficou desesperada, estava com o enteado de 19 anos, filho do marido. Ela disse que não tinha dinheiro, aí o enteado foi até a casa do pai, pegou o cartão do pai e pagou. O pai até ligou depois, eles falaram que estavam no supermercado.”
O DETETIVE E A AMANTE
“Aluguei uma suíte para um casal, um senhor e uma jovem. Aluguei a [de número] 15. Em seguida veio outro casal, jamais imaginei que eles conheciam o do carro da frente, e, por coincidência, aluguei a 14 para eles. A mulher da 15 então me liga desesperada falando que tinha alguém batendo na porta, mas que ninguém havia pedido serviço de quarto. Era a mulher do senhor tentando entrar no quarto. O detetive estava no carro.”
O SOLITÁRIO DA XÍCARA
“Tem um que vem sempre, ele é assim, é até constrangedor. Ele pegava uma suíte, levava um monte de revistas pornográficas, ficava no quarto por um bom tempo e pedia o café da manhã. Quando ele ia embora e a gente ia liberar a suíte, a gente via que ele ejaculava na xícara, aí as meninas jogavam no lixo. Até que um dia uma ex-dona falou para separar uma xícara, para mandar a mesma sempre. A xícara é dele agora.”
FEZES PELAS PAREDES
“Uma vez veio um neurocirurgião, um médico renomado de hospitais importantes. Na hora que ele entregou a suíte, ligaram aqui. O quarto estava inteiro melado de fezes. Pedi para a moça da limpeza falar de novo. Ela disse que tinha na parede, maçaneta, cama, em tudo. Não tinha condições de limpar. O gerente ficou horrorizado e falou para cobrar outra diária. O senhor ficou puto. Disse que era constrangedor e me disse o seguinte: ‘Tenho uma reclamação a fazer. A maneira que eu faço sexo não diz respeito a você, a ele [gerente] e a ninguém. Não estou bravo pelo valor, estou bravo pelo constrangimento’. Falei que também era um constrangimento para quem limpa.”
“AQUILO LÁ É MACHO!”
“Tem uma travesti que vem aqui, ela acabou comigo nesse dia. É uma loira bonita, não parece homem, veio com um cara, mas eu já sabia que não era mulher. Os dois foram para o quarto n° 10. Deu 12 minutos e o cara aparece aqui [a recepção] de carro, sem ela. Só que eu não posso liberar uma pessoa sem que a outra libere porque vai que alguém mata o outro, né? Falei para o moço que a outra pessoa não tinha liberado, ele ficou furioso e disse que ‘aquilo lá é macho’. Depois eles voltaram para irem embora, mas ela me deu um cartão sem senha que não era dela. Me recusei a passar, ela começou a me xingar de ridícula, horrorosa, pobre, falou que eu não tinha como ter o 'corpinho' dela.”
“Chamei o gerente. O Aloisio falou que eu estava certa, mas você acha que ela discutiu com ele? Não! Continuou brigando comigo, me xingando de baranga, idiota. No final ela encontrou um cartão e me passou. Eu ia me vingar. O homem estava muito nervoso, pedindo para que eu entregasse logo os documentos. Como ela tinha saído do banco de passageiro para passar o cartão na janela, pensei em entregar o RG do cara e abrir o portão, aí ele deixava ela aqui sozinha. No que terminou a operação, fiz isso. O cara foi embora. Ela ficou ‘ei, ei, ei, ele me deixou sozinha aqui’.”
“MOTEL? VOCÊ ESTÁ DE BRINCADEIRA?"


“Uma vez um cara não estava conseguindo fazer uma ligação e pediu para eu fazer e transferir para ele. Fiz isso. Em seguida ligam aqui, eu atendo, é a voz da mesma mulher para quem eu liguei antes, e ela fica ‘Mykonos o quê?’, ‘você está de brincadeira que aí é motel?’, e desliga na minha cara. O cara então me liga e pergunta se o nosso telefone é restrito (a pessoa que recebe a ligação não consegue identificar o número de quem está ligando), falei que não.”
“Ele então desce na recepção, verde, falando que a gente tinha acabado com a vida dele, que a casa dele tem identificado de chamadas, que não tinha pedido para transferir a ligação. A própria amante disse o contrário, que ele pediu, sim. Fiquei brava. Enquanto a gente fazia essa operação, a mulher, que imagino ser a esposa dele, liga de novo e pergunta como faz para chegar aqui. Falei para ele que era melhor correr porque tinha uma pessoa vindo para cá. Ele só falou para passar rápido o cartão e depois saiu daqui cantando os pneus do carro.”
QUERIDA, ROUBARAM SEU CARRO
“Teve uma mulher rastreada pela empresa do seguro do carro. Ela veio sozinha, era jovem, tinha 21 anos, e muito bonita. Entrou ela e o amante, um jovem bonito também, para um período de três horas. Depois chegou o carro da empresa, disseram que o veículo do cliente deles, um senhor que estava com eles, foi roubado e estava aqui dentro. O Aloisio foi lá e disse que poderia entrar, mas com a presença da polícia. Veio um monte de viatura, umas sete, e aí vem a parte boa. No fim, descobriram que essa menina era casada com o senhor e que eles tinham um filho de dois anos. Eles brigaram, ela foi para a casa da mãe. De madrugada, ele foi para a casa da mãe dela para reconciliar, mas a mãe não deixou ele entrar e disse que a filha estava dormindo. Como a casa não tinha garagem e o carro não estava na rua, ele deduziu que havia sido roubado. Sem querer ele descobriu que estava aqui. Ela saiu do motel, pagou a conta e até falou ‘moça, que cagada’. Daqui eles foram para a delegacia.”
“PELADINHA, COMO NASCEU
Quem conta esta história é Aloisio. “Me pediram para dar uma olhada na descarga que estava disparada. Quando abriram a porta, uma menina, muito bonita, estava ali, peladinha, como nasceu. Aí olho a pessoa na cama, um moreno, dormindo e roncando. Vou dar uma olhada na descarga porque é ruim para a gente, gasta mais água. Estou ali mexendo na descarga, olho para o lado e a mulher está ali, pelada. Minha preocupação não era a descarga, era o cara acordar. Não tem explicação para dar nessas horas, você fica sem reação.”
MORTE NO MOTEL


“A mulher saiu desesperada de roupão, pelada por baixo, gritando por socorro, mas quando chegaram lá, o cara já tinha ido. Entrava carro de polícia a noite toda, vem perícia, vem carro do IML. Ficaram a noite inteira aqui. Foram lá e pegaram o corpo, mas na hora de ir embora, o ‘rabecão’ não passava pelo portão. O carro foi dar ré, o cara até me perguntou se eu queria ver um defunto, falei que não queria ver não!”
“A GENTE TRABALHA MUITO, MAS SE DIVERTE”
Luciana – e Aloisio com algumas participações pontuais – contaram todas essas histórias em um período de poucas horas, e lembre-se que os dois trabalham no motel há anos. A recepcionista de 37 anos reclama do preconceito que as pessoas têm com eles, mas que nessas horas eles se limitam a fazer seus trabalhos. “Isso acontece muito aos finais de semana, os clientes xingam a gente de vagabunda, chama para fazer massagem. Nem ligo mais. É cansativo, mas a gente se diverte. Eu gosto de sábado à noite, só tem gente doida, um mais louco que o outro”, afirma.
O sangue frio das recepcionistas é necessário em situações chatas e outras nem tanto. É o caso de atores famosos frequentando o motel. Luciana conta que alguns tentam esconder o rosto, mesmo após entregar os documentos, mas que outros são simpáticos e dão até autógrafos. Apesar de não ser casada, ela brinca que só perde a linha se o marido aparecer ali com outra: “Perco meu emprego, mas não a minha dignidade”.

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