quinta-feira, 22 de maio de 2014

CONTO: INSTRUÇÃO ANAL (de Ariosto Augusto de Oliveira)



O Hermógenes Aragão abria a goela e mostrava os dentes podres:
— Pau pra cu tem que estar tinindo! Pau pra cu não pode ter moleza!
Arrastava os pés e continuava a derramar cascata no ouvido dos zé-manés que o ouviam atentamente:
— Pau pra cu tem que ser que nem badalo de sino! Encostou tem que fazer toin!
E ia contando as suas aventuras de cu e bunda.
Fosse agente acreditar e o Hermógenes tinha comido mais mulher que o rei Salomão, aquele da Bíblia, que só num harém tinha dez mil virgens.
E o Hermógenes revirava os olhos e ia dando a receita:
— Cu não se canta! Cu se ajeita!
E sempre havia uma dúvida na plateia:
— Se ajeita como, seu Hermógenes?


Ele arredondava os olhos de pura vaidade e ia instruindo a roda de amigos:
— Na cama, depois de comer a xavasca da dona, porque é de lei que a primeira foda tem que ser na xoxota, a gente vai alisando a bunda da dona; vai passando a mão de levinho, faz uma cosquinha aqui, faz outra cosquinha ali e, pra ir engabelando a dona, não se pode esquecer de beijar o pescoço, as orelhas.
Dava uma pausa pra conferir a assistência embasbacada e ia enfeitando o pavão:
— E também não se pode esquecer de ir bolinando as tetas!
Franzia a testa e fechava definitivo:
— Tesão de mulher é nas tetas e em nenhum lugar mais, fiquem sabendo!
Depois voltava à arte de comer cu em que havia se especializado:
— Bem alisada a bunda da dona, agente vai pondo a perna direita em cima da bunda dela assim como quem não quer nada. Vai esfregando a perna esperando o cacete se ajustar numa forma durinha, porque eu já disse que pau pra cu tem que estar tinindo.


Olhava outra vez a plateia de olhos arregalados e continuava a lição:
— Com muito jeito, a gente vai procurando o cuzinho da dona com o dedo pra experimentar a largura do dito cujo. Porque não sei se os amigos sabem, mas tem cu muito do apertado e tem outros mais maneiros.
Filava um cigarro e depois da tragada longa, abria outra vez a boca:
— Cu apertado só se come com o ajutório de vaselina ou de óleo Johnson porque sem lubrificar não há pau que entre. Se esfola inteirinho que fica uma semana imprestável.


Tragava outra vez o cigarro e junto com a fumaça soltava os conhecimentos:
— Experimentada a largura do cu e se sabendo que não precisa de lubrificante nenhum, a gente vai dando um jeitinho com a perna esquerda apoiada na cama e num vai-te já se encavala em cima da bunda da dona com a pica no ponto de cumprir a sua obrigação.
E como sempre restava dúvida na plateia, alguém vinha com a pergunta:
— E se a dona não quiser?
O Hermógenes dava uma alisada nos cabelos revoltos e punho a mão no ombro do perguntador.
— Que não querer o que, meu filho! Quando dona der fé a pica já tá dentro e a desgraça já tá pronta!

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