quinta-feira, 28 de novembro de 2013

CONFISSÕES DE UMA VELHA PROSTITUTA (por Bosco Silva)



Alguns clientes tinham uns desejos esquisitos. E eram sempre os que pagavam além da conta. Tinha um que sempre me chamava para que eu ficasse nua, menos nos pés. Ele me pedia para calçar dezenas de pares de calçados, que ele guardava na casa dele. Ele morava sozinho, sabe. E toda vez que eu ia lá tinha novos pares de calçados; de todos os tipos e cores, mas sempre calçados de couro. Pois bem... ele se deitava no chão, sobre o tapete, e me pedia para desfilar ao seu lado...
- Nua?
- Sim, nuazinha, com os pares de sapatos que tinha me dado. Depois pedia pra que eu pisasse sobre ele, sobre o rosto e o peito dele. E ele ficava lá, lambendo os sapatos nos meus pés. Às vezes até mesmo me pedia para pisar lá... tu sabe onde! - relatou Neusa, gargalhando e cutucando Moreira no braço, com o cotovelo.
- Mas era só isso? Não havia algo mais... Não havia sexo?
- Ás vezes, mas era muito raro. E quando acontecia eu estava sempre de botas.
- E era sempre com você?
- Claro, meu bem, um programa fácil assim, a gente agarra com unhas e dentes. E eu jurei a ele total segredo; apenas pras amigas mais íntimas eu contava - disse Neusa esboçando um leve sorriso.
Houve uma pequena pausa para que a mesa fosse novamente abastecida.
- Sim, Neusa, conte-me mais - disse-lhe, Moreira, após a retirada do garçom.
- Bem, tem histórias engraçadas, como essa, assim como as nojentas e tristes. E também as violentas, que uma prostituta tem que passar. Depois ainda dizem que é a profissão mais fácil do mundo!
- É uma pena, mesmo!
- Essa quem me contou foi uma amiga:
Ela estava aperreada pela falta de dinheiro. Então, um cafetão chamou ela, e disse que um de seus melhores clientes estava precisando de uma menina que topasse coisas diferentes. Ela perguntou o que seria. Ele então disse que o cliente pagaria muito bem apenas para que ela jogasse sobre ele, e na vagina dela, manteiga de amendoim para que os dois lambessem.
- Ahã - murmurou Moreira, enquanto levava o copo com bebida à boca.
- Quando ela chegou de táxi na casa do sujeito, viu que não era mentira, o cara morava em um palacete, decorado com mobílias caras e quadros na parede, com molduras pesadas de metal, decoradas com relevos que lembravam muito ouro, assinados por alguém que só podiam ser os artistas verdadeiros. Não se aproximavam nem um pouco daquelas cópias de quadros que vendem nas feiras; então, pensou ela, o sujeito devia pagar muito bem, pois o que não parecia faltar, ali, era dinheiro.
Um homem, então, veio recebê-la e levou ela ao seu patrão, um sujeito educado, que tratou ela como uma verdadeira dama. Ele pagou antecipado, uma bolada e tanto de dinheiro. Ela quando viu o dinheiro, pensou que faria de tudo pra agradar aquele sujeito e assim conquistar sua confiança, e, também, mais dinheiro com novos programas. Aceitaria então qualquer coisa que ele quisesse: ménage à trois; vibrador nela, ou nele; dedos e lambidinhas na bundinha dele, etc. Manteiga de amendoim na xereca pareceu a ela fichinha a partir do momento em que a grana reluziu em seus olhos.
E após Neusa tomar mais um gole de bebida, continuou a narrativa:
- Após os dois ficarem nus, veio a surpresa, o sujeito queria que ela se ajoelhasse para que ela mijasse nele, em seu rosto e boca, enquanto ele estava deitado sobre o tapete. Ela estranhou o pedido, mas não viu nenhum problema nisso, afinal de contas era a boca dele e o pagamento compensava, por isso, ela pouco se importava. Porém, depois de seu desejo ser realizado, ele imediatamente quis o contrário. Ela relutou, afinal de contas a boca, agora, era a dela. Ele disse, então, que dobraria o pagamento, caso ela permitisse. E assim foi, com ela permitindo imediatamente.
- Caramba! - pronunciou Moreira admirado.
- E a coisa não parou por aí, não, meu amigo.
- Não?!
- Não. Passaram pra excrementos!
- Que nojento! - exclamou Moreira, após interromper o gole de sua bebida. - Então era essa a manteiga de amendoim que ele tanto queria!
- Sim, sim - confirmou Neusa às gargalhadas. - Mas de todas as histórias que aconteceram comigo, e mesmo das que tenha apenas ouvido de amigas, esta parece ser a mais estranha e triste:
Um homem me convidou para sua mesa, em um bar como este, de esquina. Me ofereceu bebida e passou a comentar sobre sua esposa, que parecia ser bastante querida. Me contou sobre todos seus anos de vida, vividos em sua companhia. Mas tinha algo de estranho no que dizia. Me contou, finalmente, o que eu já suspeitava, que ele soube recentemente que ela lhe tinha traído, e que, no entanto, ele jamais tinha, em todos esses anos de matrimônio, lhe traído. O ódio tinha invadido aquela boca, agora. Me disse, então, que finalmente, como vingança, lhe trairia; e que me pagaria para que fosse transar em sua casa, sobre a cama de casal que ele tinha tanto prezado, mas que ela tinha maculado. Eu aceitei, bem que ela merecia, assim pensei naquele dia. Ao chegar em sua casa, fomos logo para a cama. O homem transava e chorava; e quanto mais transava, mais chorava ainda; e balbuciava o nome dela. Até que me convidou para que saíssemos daquela cama. Eu compreendi imediatamente, seu arrependimento, naquele instante. Fomos então para o chão, ao lado de um tapete enrolado, e lá ficamos transando. Em um dado momento, ele passou a gritar o nome dela: “EUNICE... EUNICE... EUNICE, SUA PUTA”, e chorava. Olhou para o tapete, e disse: “Tá vendo? É isso que tu merece”. Eu não compreendia nada do que se passava naquele momento. Talvez o tapete fosse presente de casamento e que, por isso, causasse lembranças dela; foi o que pensei na hora. Só sei que parecia que o homem endoidara. Mas, alguns dias depois, veio a surpresa. Ao ler o jornal li a matéria, espantada:
CRIME DO TAPETE: homem mata esposa a facadas e a esconde enrolando-a no tapete de casa”.
- E lá estava a foto dele, e do tapete. Ele havia matado a esposa, e no outro dia se entregado à polícia - disse Neusa.
Pois é, meu filho, por tudo isso uma prostituta passa. Imagine, eu estava ao lado de um cadáver, e não sabia. Que coisa horrível eu ter feito aquilo, estando o cadáver ao lado! Não é mesmo?


Tirado do livro Sexo, Perversões e Assassinatos.

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