NAQUELA NOITE O TEMPO ESTAVA CHUVOSO E ABAFADO. No motel da Edite só batia vento quando alguém
soltava um pum; e pra piorar, as cervejas estavam todas quentes e, ao
contrário, as putas estavam todas geladas. Nenhuma alma parecia se animar
naquele antro sujo e mal cheiroso que chamavam de bar; nem mesmo os bêbados que
já dormiam sobre as mesas me pediam qualquer dose de bebida; porque pobre é
assim: se une o bar com um puxadinho que comporte alguns quartos, eis mais um
motel saindo; porque pobre fode que nem coelho!
Os casais que chegavam se
dirigiam logo, para ter suas intimidades, além do balcão e da cortina florida
de pano barato, que separava o bar da sala de espera; isso mesmo, sala de
espera; porque motel de pobre é igual hospital, tem até sala de espera, que já
comportava alguns casais que esperavam, pacientemente, sua vez de entrar nos
pequenos quartos enquanto outros terminavam de fazer suas saliências; mas para
aqueles mais apressadinhos sobrava o banheiro e as paredes de fora do
estabelecimento; porém os que eram pego no ato eram advertidos e multados,
afinal para isso havia os quartinhos. É que para mim é assim: até em suruba tem
que ter ordem, viu! Por isso naquela noite todos estavam espremidos na sala de
espera. Foi quando uma senhora adentrou o bar e me veio até o balcão,
apressada, disse-me, meio envergonhada, se eu tinha pasta de dente.
Olha que já haviam me
pedido de tudo naquele recinto, de camisinha a margarina, e não é difícil de
adivinhar seu uso naquele pardieiro, pra pão é que não seria, viu, mas pasta de
dente, vichi! E a curiosidade só aumentou quando vi que a puta não possuía
nenhum dente; disse-lhe então:
- Ora, ora, minha senhora
para quê pasta de dente?
A mulher olhou-me um
pouco, e após hesitar, disse-me ao pé do ouvido, assim, na bucha:
Ora, ora, ora, pobre tem
cada uma...
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