quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A DANÇA DA MORTE (de Bosco Silva)



Seu corpo ao cair do cadafalso, pendurado pela corda que lhe enforcava, se debatia, pairando no ar. Suas pernas se contorciam, agitando-se desesperadamente, como se dançassem uma dança frenética, uma última dança, a dança da morte.
Enquanto seus olhos se regalavam e sua língua se estendia em direção ao chão, com a rapidez de um raio, pôde recordar do grande mal que tinha feito.
Seu nome: Hans Brünner, médico alemão, cuja fama teria levado a alguns a afirmarem que este era a prova de que Deus não existia, ou pior, que era tão mal quanto seu anjo maldito!
Brünner era um dos médicos encarregado, naqueles dias, de pesquisar modos de aliviar e reanimar soldados alemães feridos em combate, na segunda grande guerra. E como Menguele, o anjo da morte, poucos foram tão implacáveis com seus prisioneiros. Para tanto, dissecava corpos de prisioneiros ainda vivos, submetidos a câmaras de baixa pressão. Muitos tiveram o cérebro dissecado enquanto estavam vivos. E após ver as bolhas de ar que se formavam no sangue dos cérebros de suas cobaias, Hans Brünner exclamava: "Sou, sem dúvida, o único que conhece por completo a fisiologia humana, porque faço experiências em homens e não em ratos". Brünner injetou tinta azul em olhos de crianças, uniu as veias de gêmeos, jogou pessoas em caldeirões de água fervente, amputou membros de prisioneiros, dissecou anões vivos e coletou milhares de órgãos em seu laboratório, tudo em nome da superioridade da raça alemã.
Brünner tinha um verdadeiro amor por sua coleção de cabeças decepadas, que sempre conseguia novas comandando o programa que exterminava doentes mentais, ou como preferiam chamá-los: “vida indigna de viver”. E entre as muitas cabeças de sua coleção uma lhe era preferida: a pequena cabeça de uma criança de cinco anos, deformada pelos horrores da segunda grande guerra.
Sua mãe a todo custo tinha lhe dado a vida, mesmo após uma terrível intoxicação por gás venenoso, lembrança terrível da primeira grande guerra. E a mantivera protegida do frio, do pânico e da fome. Em algumas ocasiões chegou alimentá-la, devido a escassez de seu leite, com seu próprio sangue, que escorria de sua mama ferida, de tanta a filha sugar. Tinha jurado jamais abandoná-la, mesmo sob todas as diversidades da vida ou da morte. E por essas coincidências inexplicáveis da vida, que a todo custo tentamos explicar, sua cabeça, do outro lado do corredor, olhava a cabeça da filha, docemente, com um leve sorriso nos lábios, em meio a centenas de outras cabeças decepadas.

Um comentário:

  1. SINGULARIDADE ENKIANA: adorei teu blog ate que enfim um brasileiro corajoso,odeio gente idiota que não assume que e pervertido todos somos assim,sou mulher e adoro ver um snuff necro e cannibalismo.
    RESPOSTA de Bosco Silva: O blog é dedicado ao escritor Marquês de Sade; porém diferente dos blogs dedicados a este escritor - até onde pude ver, todos bastante formal, comportado e acadêmico - o Inferno de Sade é, como seu homenageado, irreverente, transgressor e fetichista; não consigo imaginar um blog que seja dedicado a este escritor fora deste contexto.

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