APÓS UMA ESTRANHA
GRAVIDEZ de apenas cinco meses, nasceu Ofélia, o mais jovem membro de uma nobre
família inglesa, que contava entre seus antepassados com antigos cavaleiros,
que com intrépida coragem haviam expulso turcos sanguinários dos negros bosques
da Transilvânia, por meio dos cortantes fios de espadas.
Quando a pequena Ofélia
viu a luz pela primeira vez, sua mãe, por uma estranha coincidência, fechou os
olhos para a vida, após cinco meses de terrível agonia: dores horríveis,
alucinações e profundo sonambulismo, que lhe acarretava todas as noites,
conduzindo-a para fora de seu castelo, em profundos êxtases, fazendo-a
percorrer densos bosques, embrenhar-se por entre gigantescos carvalhos e penetrar
em um antigo cemitério e, por fim, ser vista nua sobre o túmulo de um ancestral
guerreiro celta, ao nascer do dia.
Contam-se que a pequena
criança havia nascido estranhamente com os olhos abertos a evitar contato com a
luz; e quando luzes de velas eram postas próximas a ela parecia irritar-se,
mesmo com a tênue luz da lua, fazendo-a gesticular e soltar gritos terríveis
que ecoavam através do espesso véu da noite.
Ofélia foi entregue aos
cuidados de dezenas de amas e mães de leite que alimentavam seu prodigioso
apetite. A menina mamava com voracidade até os seios sangrarem. E enquanto mais
saudável Ofélia ficava, magras e doentias, a olhos vistos, sua amas ficavam. E
em meio a esta estranha mistura de sangue e leite, Ofélia cresceu com um
singular gosto pelo primeiro.
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