quinta-feira, 18 de julho de 2013

A COMUNHÃO DA CARNE (por Bosco Silva)



Enquanto o velho mestre Sadus contornava as dezenas de corpos que se amontoavam, se contorcendo, uns sobre os outros, no ritmo frenético do sexo, disse a sua nova discípula:
- Dispa-se.
E ao vê-la esconder-se sob suas vergonhas, disse-lhe o velho sábio:
- Nos ensinam, há mais de dois mil anos, a termos vergonha de nossos corpos, a odiarmos o que nós próprios somos, a termos vergonha de nossa própria natureza. Nossa moral e religião nos ensinam a associar castidade à dignidade e liberdade, a não seguirmos os desejos do corpo, a castigá-lo para não sermos escravos do mesmo, de seus apetites e desejos; o homem soberano, para esta forma de pensar, não se deixa levar por seus impulsos e instintos.
E após ouvir suas doces palavras a jovem despiu-se lentamente revelando um corpo belo e fresco, um corpo que ainda não havia sido tocado por nenhum outro. E enquanto o velho sábio pôs-se a tocar-lhe suas entranhas com os dedos, disse-lhe em meio aos seus sussurros e gemidos:
- Porém, por trás de tal concepção se esconde uma luta ferrenha e doentia entre cada indivíduo consigo próprio: uma luta entre os impulsos mais naturais do homem e o desejo inútil de abafá-los, de calá-los, gerando sentimentos de culpa desnecessários. E onde há culpa, há também castigo. Não admira que as igrejas estejam abarrotadas de pessoas obcecadas com os sentimentos de culpa e de pecado, já que aprendem, desde que nascem, a identificar em todas as coisas naturais expressões de pensamentos pecaminosos.
A discípula, em meio a sussurros e gemidos de outras mulheres que eram penetradas com vigor por centenas de machos sedentos pelo mais excitante sexo, fazia força para ouvi-lo enquanto este continuava a falar-lhe, com os dedos em suas entranhas:
- Contudo, o homem verdadeiramente livre é aquele que segue a natureza, que não luta consigo próprio, contra sua própria natureza; não é alguém dividido entre o que se é e o desejo de negar a si próprio. Enfim, ser livre jamais implica em renúncias, mas ao contrário, o verdadeiro escravo é aquele que, ao reprimir seus impulsos naturais, torna-se carrasco de si mesmo.
De repente, o lugar encheu-se de gemidos, as mulheres tinham o rosto banhado por dezenas de machos que ejaculavam abundantemente. 
- Mas... veja eles – prosseguiu o mestre, olhando para a cena que fervia em sua frente -, por meio do sexo buscam, inconscientemente, harmonizarem-se com a natureza, e ao fazerem isso, harmonizam-se consigo próprios, com o que verdadeiramente somos; são crianças ouvindo o chamado da natureza, sem culpa ou pudor, felizes com seus instintos, mas com segurança. Ouça... – disse Sadus com voz baixa e sussurrante ao pé do ouvido da jovem discípula enquanto esta alcançava o mais vigoroso orgasmo – ouça o chamado da natureza...

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