No famoso romance 50 Tons de Cinza, da britânica E. L. James, a
personagem Anastasia Steele, uma ingênua virgem de 21 anos - fato tão incomum em
nosso mundo dominado pela informação e internet e que parece mesmo não refletir
um adolescente de 15 anos em nossos dias - estudante de literatura, é levada ao
mundo do sadomasoquismo pelo misterioso multimilionário Christian Grey. Ele,
após envolvê-la sexualmente, lhe propõe uma espécie de jogo sexual, em que
Anastasia se mostrará totalmente submissa aos seus desejos e caprichos, por meio
de um acordo redigido em papel e propenso as penalidades da lei, caso for
quebrado.
O que talvez muitos dos milhares
de leitores deste romance água com açúcar não saiba é que, o tal contrato, que no livro é um elemento importante de excitação, e
que tem estimulado as fantasias sexuais de centenas de milhares de mamães pelo
mundo afora, não é tão original como possa parecer e que se a personagem
Anastasia fosse uma boa estudante de literatura saberia que Christian Grey, não
passaria de uma cópia sádica, mal feita, construída nos moldes das modernas sociedades capitalista
ocidentais de um escritor austríaco de nome Leopold Von Sacher-masoch.
LEOPOLD VON SACHER-MASOCH |
Leopold Von Sacher-Masoch (1836 - 1895) no longínquo ano
de 1869, então com 33 anos, conheceu Fanny de Pistor Bogdanoff, bela mulher,
nobre como ele, e que acima de tudo o amava. Masoch lhe propõe um pacto
redigido como contrato: durante seis meses ele será seu criado. Ela poderá
fazer com ele o que bem entender. A única ressalva é que permita que ele
continue a escrever seus romances durante três horas por dia.
O prazer de Masoch é
obtido à custa do sofrimento. Fanny estranha a proposta, mas por amor aceita. O
casal vai para a Itália em Nápoles para não serem reconhecidos, já que moravam
na Áustria. Masoch vestia e comportava-se como um criado polonês, que
acompanhava a princesa. Ambos adotam práticas sexuais pautadas pelo sofrimento
físico (chicotadas e tapas no rosto) e moral (tratamento como escravo, ofensas
e xingamentos).
SACHER-MASOCH E SUA AMADA FANNY |
O próprio Sacher-Masoch
nos conta como seu fetiche por peles, dor e humilhação começou:
Quando criança
apaixonou-se por uma tia. E quando estava escondido em meio aos casacos de pele
no armário do quarto desta, a viu manter relação sexual com um homem. E ao ser
descoberto, foi espancado por ela. Isso, de alguma forma, fez com que ele associasse
prazer, excitação sexual e casacos de peles com submissão, humilhação e dor,
pelo resto de sua vida.
Seu relacionamento
conturbado com Fanny e também seus fetiches seria mais tarde transportado para um
de seus romances: A Vênus das Peles.
Na história o personagem
principal, que na realidade é o próprio Masoch, cujo nome ficcional é Severin,
propõe um contrato para o personagem que representa Fanny, com o nome de Wanda,
que prevê explicitamente o papel de cada um, ele, diferentemente de Christian
Grey, no de escravo e ela como tirana, além da exigência de que ela deveria cobrir-se
de peles ao açoitá-lo. Mas como podemos ver, vai entrar em cena o ciúme, já que
a personagem Wanda tem liberdade para flertar com outros homens, quase que é
obrigada a isso, já que no contrato ela dever humilhá-lo, castigá-lo, torná-lo
um animal ou objeto e não consta sexo, desta forma, ela tenderá a buscar um
homem para essa finalidade, mesmo amando-o, criando uma reflexão sobre esse
tipo de relacionamento, os limites do amor e a pequena linha que separam o
senhor do escravo.
Por fim seu nome originou
o termo masoquismo; mas isso é uma outra história...
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