Agrada-me, em noites de
natal, andar sob árvores adornadas com pequenas luzes coloridas que, na maior
parte das vezes, transmitem sempre alguma harmonia. Gosto também de caminhar
nas praças e ouvir os corais cantando antigas canções de natal.
E assim, disposto a
deixar-me envolver mais uma vez por este clima de luzes coloridas e antigas
canções natalinas, parei por alguns minutos em uma mesa de bar ao ar livre,
enfrente de uma praça; observava calmamente a paisagem quando, inesperadamente,
um travesti subiu a calçada, vindo em minha direção. Ele, vestido a caráter,
com uma pequena blusa e minissaia vermelhas e um gorro de papai-noel, caminhava
com a boca aberta apontando com o indicador direito para a mesma. Pôs-se de pé
a apoiar-se com as mãos na borda da mesa onde eu estava. Gesticulava e tentava
respirar.
Nesse instante, tomado
pelo solidário espírito de natal, levantei-me, contornei-o e abracei-o por
trás, apertando seu abdome, comprimindo-o em direção a mim, tentava fazê-lo
soltar o que havia lhe engasgado. Uma, duas, três vezes, repetidamente... Até
que observei a pequena multidão que se formou ao redor de nós. Alguns gritavam
“há lugar para isso, seu tarado!”, enquanto outros diziam “paga motel, sua
bicha!”. Nesse momento, envergonhado, volto a sentar-me na cadeira; é quando o
travesti desmaia, ajoelhado, com a boca sobre meu colo. Ao mesmo tempo, dois
guardas sobem a calçada em nossa direção, esbravejando:
- Então é verdade:
atentado ao pudor em pleno natal! Você não se envergonha, seu tarado?!
- Não é bem isso, seu
policial. O rapaz aqui desmaiou após engasgar-se com algo.
O travesti, nesse
instante, acorda. Peço-lhe que explique o ocorrido. Ele, atordoado, levanta-se
e, inesperadamente, tira uma camisinha usada da boca, botando-a sobre a mesa.
- Então ele se engasgou
com algo, hein? - disse o policial com o cassetete nas mãos. - É, sei bem com o
que, seu tarado! Vamos, os dois já para a...
Corro em disparada,
seguido pelos guardas, e pelo travesti, que me cobra por um programa que não
existiu; e também pela multidão enfurecida, gritando, repetidamente: “bicha,
bicha, bicha”.
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