Esta obra de Sade, publicada
clandestinamente em 1795, apresenta uma mistura inusitada para os padrões da
época e mesmo para os de hoje, ela mistura filosofia e pornografia gerando algo
tão explosivo quanto nitroglicerina. O livro trata de um tema que era comum à
época, a educação de jovens. Tema explorado literariamente por escritores como
Rousseau e Goethe, mas que Sade subverte introduzindo uma verdadeira pedagogia
da libertinagem.
O livro é dedicado a todos os
libertinos, os únicos que serão capazes de compreender seu autor:
“Voluptuosos de todas as idades e de todos os
sexos, é a vós somente que dedico esta obra; alimentai-vos de seus princípios
que favorecem vossas paixões; essas paixões que horrorizam os frios e tolos
moralistas, são apenas os meios que a natureza emprega para submeter os homens
aos fins que se propõe. Não resistais a essas paixões deliciosas: seus órgãos
são os únicos que vos devem conduzir à felicidade”.
A obra tem como tema a educação da jovem
Eugênia, uma moça recém-saída de um convento, à filosofia libertina, por três
experientes libertinos, a devassa madame de Saint Ange, o libidinoso Senhor de
Mirvel, seu irmão, e o cínico Domancé. Para tanto, primeiro a ensinam a
conhecer por si próprio seu corpo, e o corpo do outro, tanto feminino quanto
masculino. E em seguida, a obter prazer por meio destes. E durante a descoberta
do prazer sexual, são proferidos argumentos filosóficos por meio de perguntas e
respostas entre discípula e mestres. E afim de descondicionar a discípula e
torná-la apta a absorver seus conhecimentos, tal pedagogia assume a aparência
de uma FILOSOFIA DE CHOQUE, em que, por meio do chocante e do grotesco, o homem
descobriria a liberdade, quebrando restos de moralidade e religiosidades, que
atrapalham tal aprendizagem; para tanto, tais libertinos são levados a
praticarem sexo grupal, homossexual, incestuoso e a proferirem blasfêmias, bem
como a darem exemplos de sexo bizarro, praticados por eles, e também de
costumes sexuais e morais de outros países, que embora respeitados e
considerados sábios nestes países, seriam odiados e tachados de criminosos em
sociedades cristãs, exemplificando a inferioridade e relatividade das leis
humanas perante à universalidade das leis da natureza, as únicas que devem ser
seguidas.
E finalmente, como não poderia faltar ao
estilo chocante de Sade, a discípula prova que absorveu o conhecimento de seus professores,
torturando, perante os próprios mestres, a própria mãe, praticando nela atos
libidinosos, e permitindo até mesmo que esta seja estuprada por um empregado
infectado pela sífilis antes de ter a vagina costurada, a fim de facilitar o
contágio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário