Este artigo, tirado do site da revista Piaui, ajuda a derrubar um dos grandes mitos sobre Sade: seu exacerbado ateísmo. Aliás, penso que isto pode ser generalizado: ateus são mais tolerantes com religiosos que estes àqueles.
Visto no século XVIII como a própria encarnação do demônio por alguns de seus contemporâneos e lido clandestinamente no século XIX, o marquês de Sade tornou-se, no século XX, um dos autores de seu tempo mais respeitados da literatura francesa.
Visto no século XVIII como a própria encarnação do demônio por alguns de seus contemporâneos e lido clandestinamente no século XIX, o marquês de Sade tornou-se, no século XX, um dos autores de seu tempo mais respeitados da literatura francesa.
Exerceu ao extremo a
liberdade preconizada pelo Século das Luzes e cometeu todo tipo de excessos,
muitos dos quais descritos em seus romances famosos como Justine, Os Cento e
Vinte Dias de Sodoma ou A filosofia no boudoir.
Mas é, sobretudo, por ter
sido cunhado o termo sadismo a partir de seu sobrenomeque o marquês de Sade
tornou-se imortal. Tido pelas autoridades do rei como perigoso, Sade ficou
prisioneiro durante quase trinta anos. Sempre disposto a inúmeras querelas,
passou a vida tentando esquivar-se de um cortejo de credores e de advogados.
A carta reproduzida nesta
página é inesperada vinda de quem vem. Data de 1771, quando o marquês era ainda
livre e jovem com 30 anos, mas já era conhecido por seu estilo de vida
libertino. Entre várias propriedades, havia herdado de seu pai o castelo de
Mazan, cujo capataz acabara de morrer.
Sade escreve ao sobrinho
do capataz, chamado Ripert, que lhe havia dito pretender continuar na função do
tio, e faz na carta um pedido surpreendente:
“Convencido de seu zelo e
afeto por mim, meu caro Senhor, concedo-lhe com prazer o cargo de meu
responsável e procurador em Mazan, ocupado antes pelo seu tio Taulier, cuja
perda, confesso, não poderia ter sido para mim mais penosa. Espero que queira
substituí-lo não apenas em suas funções, mas também em seu real afeto por minha
pessoa. Peço-lhe que esteja presente numa missa que exijo e ordeno que se reze
por ele às minhas custas na igreja em que foi enterrado.
Continuo, Senhor, seu
muito humilde e muito obediente servidor.
De Sade”.
Sade observava, como
faziam todos na correspondência da época, as fórmulas fixas de cortesia, que
exigiam que o correspondente se declarasse “humilde servidor” da pessoa a quem
dirigia a carta. Neste caso é especialmente saboroso que se declare “servidor”
de seu servidor.
Mas o mais surpreendente
é que Sade queira encomendar uma missa católica e não uma missa negra, como sua
reputação deixaria esperar.
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